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Ridícula ingenuidade

A escritora Daniela Versiani já dizia, e com razão, que todos “nós somos ridículos ou possuidores de uma ingenuidade ridícula...

Marco Antônio de Figueiredo
Publicado em 28/12/2009 às 23:09Atualizado em 20/12/2022 às 08:48
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A escritora Daniela Versiani já dizia, e com razão, que todos “nós somos ridículos ou possuidores de uma ingenuidade ridícula”. Se olharmos atentamente para o nosso cotidiano, veremos que agimos, rotineiramente, de maneira ridícula para não dizer de uma ingenuidade despreparada, mas consentida. Nossos atos e gestos ao cumprimentar alguém, ou a nossa incomunicabilidade nos elevadores dos prédios comerciais ou residenciais, os momentos de inveja, ciúmes e até mesmo de intolerância afloram nossa ingenuidade e atos ridículos. Alguém poderia me dizer se acordar com beliscões e soluços da esposa possessiva, que estava a sonhar com uma imaginaria traição, não é o cúmulo do absurdo e de uma ridícula ingenuidade? Ou isto não seria melhor, ou menos ridículo, que as certezas absolutas dos senhores da verdade que se intitulam professores eternos?   Napoleão já afirmava com aquela sabedoria que lhe era peculiar: “Do sublime ao ridículo, é só um passo”. Versiani também mostra os tipos de comportamento ridículo que cada um de nós vivencia de forma doméstica, como olhar no espelho após o banho ou quando acorda dividindo com ele os comentários sobre nossas intimidades. Também é ridículo dormir, confessar, conversar e discutir a relação com o travesseiro ou debaixo do chuveiro. Será que ainda tem algo mais ridículo? Talvez seja ingenuidade, mas também parece ridículo se você é do tipo que conversa sozinho em frente o espelho, discute com as paredes, usa binóculo para “espiar” a vizinha; contam as celulites da perna ou dos glúteos, os pneuzinhos da cintura; encolhe a barriga para tirar fotografia; chora em casamentos e festas de formatura; assiste a novelas e fica comendo pipoca em frente à televisão.   Tivemos a curiosidade de verificar na internet o que se escreve e o que se afirma pelo mundo, quanto ao pensar e viver de modo ridículo, com a intenção de começar um novo ano, procurando evitar a ingenuidade ridícula ou o ridículo da ingenuidade em nossos atos, chegando à conclusão, depois de confirmar a existência de milhões de páginas, poemas, artigos, críticas, romances, músicas e filmes sobre o tema, que é ridículo pensar que a ingenuidade possa ser ridícula, assim como as cartas, versos e juras de amor, o olhar “pastel”, o ciúme, a introspecção e o bem-estar consigo mesmo, as cantigas populares, os filmes e romances escritos, televisivos ou nas telonas dos cinemas, nada disso é mais sublime que a inocência da beleza de saber viver na era da ingenuidade.   É incrível, mas vivemos num tempo tão ingênuo e tão ridículo, que as pessoas compram produtos de felicidade, de vida eterna, de beleza matricial, de milagres do peso, de mentiras e juras de dias melhores na política, cuja excelência é anunciada somente por quem os vende, o que confirma que somos “possuidores de uma ingenuidade ridícula”.   

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