ARTICULISTAS

Vida vazia

Estamos atravessando um momento ímpar na nossa história recente

Karim Abud Mauad
Publicado em 16/07/2019 às 18:27Atualizado em 17/12/2022 às 22:34
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Estamos atravessando um momento ímpar na nossa história recente em todos os aspectos. Normalmente trato aqui de aspectos políticos e econômicos do nosso dia a dia, nas três (3) esferas de poder. Hoje quero falar do cotidiano, das pessoas e suas relações  interpessoais, seja na família, no trabalho, na convivência com o outro. Tenho participado de muitos eventos e palestras, tratando de temas atuais que impactam a vida, com palavras modernas, como disrupção, indústria e varejo 4.0, inteligência artificial, e outras nem tanto, mas igualmente importantes, como empreendedorismo, inovação, compliance, entre outros. Nelas, percebo a preocupação de todos, em deixar claro que mesmo o cérebro humano sendo igualado pela inteligência artificial, o homem ainda será necessário e insubstituível. A causa, mesmo com o mundo dobrando o número de informações a cada setenta e três (73) dias, com todo conhecimento disponibilizado, ainda restarão os sentimentos e os valores humanos. Aí que me deparei pensando nestes sentimentos e valores, olhando para o mundo em que vivemos, vendo refugiados, guerras, carestias, o homem subjugando o homem. Será que seremos mesmo insubstituíveis? 

Trazendo para uma lente menor, percebendo o descaso com a saúde, a falta de remédios para tratamentos, a falta de consultas e profissionais, e ainda relatos sobre profissionais que tratam seus pacientes como mercadorias, como mais um na linha de produção, continua a dúvida: seremos mesmo insubstituíveis pela capacidade de nos emocionar e pelos valores humanos que carregamos? Quais valores?

Ainda buscando mais perto, assistimos a relação de trabalho se deteriorar, não pela mudança na CLT, mas pela mudança no caráter e na atitude de contratantes e contratados, onde regras são mudadas pelo simples interesse de quem as mudou, e continua a dúvida: seremos mesmo insubstituíveis?

O uso  de arranjos ao sabor de interesses, arranjos que possibilitam absolver ou condenar alguém pela simples conveniência de grupos de interesse, deixando ética, transparência e cidadania de lado, é estarrecedor. Às vezes nos deparamos com pessoas que nos extorquem, muito além da definição do dicionário, ou do crime tipificado pelo artigo 158 do Código Penal Brasileiro. Quantas vezes somos extorquidos em nossa boa fé, em nossas crenças e até moralmente, por espertalhões querendo levar vantagem em tudo. Nestas horas lembro-me de Rui Barbosa e sua fala sobre “ver prosperar as nulidades, a desonra, de tanto ver crescer a injustiça...”. Vale buscar esta e outras frases do Águia de Haia.

Assim fica cada vez mais difícil acreditar que o homem será insubstituível, já que sentimentos e valores vão ficando pelo caminho. Triste fim...

Encerro ainda mais entristecido pela morte da irmã Maria, do Mosteiro da Glória, ocorrida em 16/07/2019. Já falei dela aqui em artigo específico sobre o Mosteiro. Ela sim tinha valores e princípios e agora está ao lado do Pai. Exemplos como o dela são cada vez mais raros, talvez por isto, minha descrença e amargor. Descanse em paz, querida irmã Maria. Aqui os que te conheceram em vida, choram sua ausência. Mas como se dizia antigamente, na época efetiva de valores e princípios, “o céu está em festa”.  

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