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Fake news

É comum que se fotografe um lindo prato com a melhor culinária, taças, vinhos, lanchas...

Ricardo Cavalcante Motta
Publicado em 07/12/2018 às 20:58Atualizado em 17/12/2022 às 16:15
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É comum que se fotografe um lindo prato com a melhor culinária, taças, vinhos, lanchas... e se poste em redes sociais. Para compartilhar, é o que se diz. Mas, em verdade, o que está se compartilhando?  Poucos dos alcançados vão fazer a leitura de comunhão do exposto porque, na maioria das vezes, está a se postar para que alguém, dentre tantos, veja e sofra, para provocar uma inveja, ainda que difusa, do aparente deleite. Pouco se extravasa da alegria em si, simplesmente porque vivemos em imbecil rivalidade. Busca-se, sem se confessar, uma comparação e demonstração fútil de poder, mesmo que ilusório. A felicidade, para quem de fato está feliz, não reclama necessidade obsessiva de exibição a todo instante, afinal, a felicidade é um estado interno, que dispensa ostentação reiterada de contentamento. A íntima realização é uma construção perseverante, sequencial, evolutiva, pacífica, serena e discreta. A felicidade, muito pessoal, pode, sim, ser compartilhada, até ser contagiante, mas causa inveja a demonstração de sua solidez, infelizmente. Energias positivas e negativas confrontam-se constantemente. Mas a necessidade viciada de “compartilhar” aparentes prazeres pela exposição em redes não é comunhão, em regra, é rasa exibição. Desnuda, seguramente, a enfermidade espiritual de se olhar somente para fora, não para dentro de si. Estamos vivendo uma ocasião dada ao vazio de nobreza de conteúdo subjetivo, lamentavelmente. Ao invés dessa rivalidade externa, deveríamos ter a coragem de inaugurar uma disputa interna entre esses opostos do sentir. Reconhecer as limitações do ser para então desenvolver a virtude do existir. Porém, a dificuldade de reconhecer nossos defeitos nos torna reféns da aparência e estagnamos sem desenvolver. Só aceitamos ser o bom, o melhor, superior ao rival, ainda que virtual. Tornam-se infinitos esses rivais em rede social. Nasce um tormento insuperável. Contudo, a vida reclama um diálogo verdadeiro, dirigido não só ao externo, mas também ao interno. Assistimos em locais públicos a pessoas conversando e postando pelas redes sociais, ignorando a companhia presente ou de si mesmo. Registram imagens do encontro sem conversar de fato, enviam como se fosse felicidade. Pois eh! Enquanto isso vigorar, vamos vivendo a fase da “endemia” do WhatsApp, Facebook, Instagram, Twitter..., porém, ao que parece, essa felicidade não passa de uma “fake news”.

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