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Camaleões

Estélios; camaleão. Vem do latim a origem do nome dado ao estelionato

Ricardo Cavalcante Motta
Publicado em 17/10/2018 às 19:07Atualizado em 17/12/2022 às 14:32
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Estélios; camaleão. Vem do latim a origem do nome dado ao estelionato. Estelionatário há de vários tipos, dizem que nunca se curam definitivamente. Ele era um sujeito nascido numa família de muitos filhos. Devia ser o sexto dentre oito. A atenção era bem dividida, pouca para cada filho. Família humilde. Certa feita, ele adoeceu mais sério e obteve zelo especial. Teve, inclusive, alimentação mais farta até se curar. Gostou da distinção. Desde então passou a se vitimar para receber especial carinho. Reclamava de dores, mal-estar, mesmo inexistentes. A mãe o foi interpretando frágil, coitado e por isso direcionou-lhe dedicação maior. Sacrificava-se por ele muitas vezes em detrimento dos demais. Certa feita, ele quebrou o braço e adorou ter a atenção de todos, que perguntavam sobre o fato... Depois sofreu uma queda. O médico disse que houve brando abalo na coluna. Ele tratou de criar que era trauma grave e, de tanto reclamar, ganhou muletas. Foi indo até que caiu numa cadeira de rodas. O oportunismo chegou ao nível de se ligar a esta senda ao grau de arranjar um ponto de pedinte na praça. A esta altura, já bem sabia dominar a arte de enganar e se fazer passar por miserável sofredor. Foi juntando ganhos secretamente. Às vezes, sumia. Retirava a barba, mudava a aparência e ia gozar secretas e ricas férias longe dali. Afirmava estar se tratando de enfermidade. Perto do seu lugar de pedinte ficava uma vendedora de loterias com feições formosas. Apaixonou-se por ela. Criaram intimidades ao alcance dele contar para ela que tinha o sonho de conhecer o Caribe. Até que, a pretexto de seduzi-la, confidenciou que constituiu uma boa poupança para realizar sua fantasia. Ela, certo dia, lamentou que estava vinculada a um agiota, com risco de perder sua casa. Pediu emprestado um cheque para dar em garantia de dívida. O valor significativo não era tão absurdo. Cedeu. Ela não descontou o cheque, ao que ele acreditou na verdade de sua causa. Passados dias, chorando, ela pediu outro cheque, dessa vez de vultoso valor. Desconfiado, mas apaixonado, ruiu à fraqueza do coração. Emprestou, afinal ela agiu bem da outra vez. Não era prazo longo, somente até sair o financiamento bancário já adiantado, como vinha lhe informando ela há muito. Porém, nesta oportunidade, ela descontou o cheque anterior e o atual. Sumiu. Enganado, o camaleão que não sentia remorso nem ao ludibriar a própria mãe, odiou. Sofreu do mesmo amargo veneno que aplicava. Sentiu o sabor de ser vítima de verdade... Mas não se emendou, com mais gana, voltou para a praça.

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