Quando fiz estágio na Rodovia Transamazônica no ano de 1972, presenciei algo sutil
Quando fiz estágio na Rodovia Transamazônica no ano de 1972, presenciei algo sutil que o pessoal da caserna conhece bem. Oficiais-generais (do Exército, Marinha e Aeronáutica) visitavam a obra. Um colega e eu estávamos no mesmo ônibus para indicar o caminho de Altamira à selva bruta. Quem olhasse superficialmente não percebia, mas eu sabia o porquê de esse ou aquele oficial-general se sentara à frente, no meio ou mais atrás no ônibus. Questão de hierarquia.
Quatro estrelas nos ombros à frente. Três, mais atrás e duas do meio para os fundos. Só vi um major artilharia do Exército que me pareceu ser ajudante-de-ordens do chefe daquela expedição. Nas paradas, para descer e subir no ônibus seguia-se a mesma ordem (“grandes”, “médios” e “menores”), embora fossem todos oficiais-generais. Questão de hierarquia.
Outro episódi o Estado-maior das Forças Armadas (EMFA) visitava as obras da barragem de Volta Grande também no ano de 1972. Ali também estavam generais do Exército, brigadeiros da FAB e almirantes da Marinha. Antes de percorrer o imenso canteiro de serviços o grupo foi levado a um auditório para receber informações técnicas sobre o projeto.
À frente do corpo de oficiais-generais estava o palestrante, um competente engenheiro civil formado na saudosa Escola de Engenharia do Triângulo Mineiro. Um metro e noventa de altura, sotaque paulistano, o homenzarrão, empolgado, falava aos militares e ocorre o inesperad a porta da sala estava aberta. Passa um desavisado e, fazendo sinal de positivo com o polegar direito a prumo, solta um estridente brad “Fala sargento Marcos!” (nome fictício). Os oficiais-generais se entreolharam espantados e a aula do engenheiro foi ao chão. Por quê? Questão de hierarquia. Como assim? É que o engenheiro palestrante havia sido segundo sargento do Exército e estava ali dando aula a generais? Como assim?
Por que dei volta tão longa para enfocar as chispas que estão ocorrendo entre o candidato a Presidente, capitão Bolsonaro, e seu vice, general Mourão? Imaginemos o capitão, já Presidente, comandante em chefe das Forças Armadas, frente a frente ao general-de-exército-Vice que, na prática, está seis postos acima de Bolsonaro. Samba do crioulo doido?
E Bolsonaro já deu recado direto a Mourão, para segurar a onda de falastrão. Inclusive pontuou enfaticamente que, se eleito, será ele o Presidente e Mourão o vice. De quebra “sugeriu” ao seu superior, também paraquedista, para que estude a Constituição, respeite-a e tire a túnica. Até para os de entendimento raso como eu, está claro que as chispas entre os dois vão continuar e talvez seja esse um dos maiores problemas para Bolsonaro. Enquanto os dois se estranham, alguém vai tirando partido da situação.