Compras por impulso, incapacidade de controlar gastos, falta de conhecimento financeiro
Compras por impulso, incapacidade de controlar gastos, falta de conhecimento financeiro, perda repentina do emprego, percalços financeiros, vontade irrefreável de ter o supérfluo, deslumbramento por produtos anunciados na mídia, crédito fácil e possibilidade de parcelamento têm levado muitos consumidores a voltarem para casa com sacolas cheias de produtos que não combinam com os próprios vencimentos.
É por isso que milhões de endividados estão com o nome inscrito no SPC – Serviço de Proteção ao Crédito. E o inadimplente pode perder o acesso a novos empréstimos e financiamentos, ter suspensa a emissão de talões de cheques e ficar sujeito a uma cobrança judicial, dentre outros problemas.
Uma das promessas de campanha de um dos candidatos à Presidência da República é limpar o SPC, pondo fim a todas as dívidas e deixando todos os endividados com o “nome limpo”, o que lhes faculta contraírem novas dívidas. E essa promessa do candidato surge bem na hora em que a mídia começa a noticiar uma nova categoria de devedores: os superendividados.
Em tese, os superendividados já devem estar entre aqueles que serão beneficiados pelo milagroso candidato à Presidência, se eleito for. Mas é óbvio que é impossível acertar as contas de todos os devedores, embora o candidato garanta, com sua explicação simplória, que isso seja possível.
Por ironia, é tão fácil elaborar uma lei que dê cabo das dívidas de todos os brasileiros, que vai aqui um rascunho de uma hipotética “Lei do Calote”: “Artigo Primeir Ficam extintas as dívidas de todos os brasileiros. Artigo Segund Revogam-se as disposições em contrário.” Está pronta a Lei. Uma Lei bem simples, que o Congresso poderia aprovar com gosto, para desespero dos credores, pela injustiça que ela representa.
A lógica que paira na cabeça do candidato que pensa em zerar automaticamente as dívidas de todos os inadimplentes é esta: Este é o preço que pagarão os bancos, por cobrarem juros exorbitantes, e os comerciantes, por empurrarem para o cliente mercadorias com valores superiores à capacidade de endividamento dele.
Nem sempre a inadimplência é provocada pela compulsão por compra. Mas, se o caso for esse, há o grupo dos Devedores Anônimos, que ajuda e orienta quem sofre da compulsão por compras (oniomania) a negociar a dívida com o credor e a criar e executar um plano de controle de gastos.
Reuniões de conciliação envolvendo devedor, credor e mediador têm sido marcadas por um bom desconto em dívidas pesadas e parcelamento do saldo. O sucesso da negociação compreende uma via de mão dupla: o credor deve estar disposto a ceder, por exemplo, abatendo parte da dívida, e o devedor deve honrar o acordo feito. Mutirões de renegociação de dívidas têm sido promovidos por entidades como Serasa, SPC, Procons e Defensorias Públicas. E há ferramentas de renegociação de dívidas pela internet.
A educação financeira nas escolas e em casa pode, no futuro, ajudar a evitar endividamentos e dificuldades de administrar o dinheiro recebido à custa de muito trabalho. E, se já aconteceu o endividamento, o ideal é tentar uma reorganização financeira, além do pagamento ou da reestruturação da dívida dentro de suas reais possibilidades do devedor. Nesses dois últimos casos, o inadimplente consegue “limpar o nome” e “sair do sufoco”. Então, quanto antes o endividado tomar providências, tanto melhor.