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Nostalgia lusitana

Não conheço o Tejo, mas sei que de lá eu vim e como sei que de lá eu vim, vejo o Tejo

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 19/06/2018 às 20:15Atualizado em 17/12/2022 às 10:44
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Não conheço o Tejo, mas sei que de lá eu vim e como sei que de lá eu vim, vejo o Tejo como algo de mim. Nunca fui ao Tejo, mas almejo voltar lá sim. Saber quanto de lá faz parte de mim, quanta Lisboa Pessoa me fez assim. Voltar de lá traduzido e trazido pela língua do Tejo é o meu desejo, enfim. Cá doutro lado, bem perto donde dei por mim, num lampejo achei de avistar o Tejo, mas não, era Francisco seu irmão sertanejo. Hoje me deu uma nostalgia enorme daquilo que sei que faz parte de mim, mas ainda não vivi. Entendo nostalgia assim, algo imensamente desejado, porém não vivido. É a saudade do que não vivemos, é a vida incompleta que por certo não alcançaremos mais, porque o tempo dessas coisas não retroage. Como sei, por razões óbvias, que o sangue lusitano me percorre, fico a analisar-me se de fato me inclino por qualquer motivo, seja intuição, melancolia, poesia. Onde será que minha porção portuguesa mais se acentua e permite identificar-me? Será no fado que nada mais é que destino. E que destino sou obrigado a acreditar? Sempre relutei em delegar ao destino as inevitáveis ocorrências e acometimentos que compõem nossa biografia. Cada um tem a sua e simplesmente atribuir ao destino é antecipar-se em vida à entrega submissa da inevitabilidade do que está reservado para todos nós. É morrer um pouco em vida. E o destino está aí também para ser questionado, ou seja, não se descende ou se origina pelo destino. Voltar ao Tejo sem ter ainda por lá estado é o meu reconhecimento de que o acaso me fez pelo destino de quem, não sei se por acaso, um dia deu de embarcar, em remotas épocas, para escrever seu destino aqui em terras brasileiras. Como somos múltiplos em formação, o mais miscigenado dos povos, somos uma fusão indescritível de destino e acaso. Procuro-me em tantas misturas e acho-me um tanto mais lusitano que as demais que me completam e me sintetizam. Volto os olhos ao mapa mundi e alcanço Portugal e o Tejo desaguar no mar. Ao sudoeste identifico a ilha da Madeira, leio Funchal e penso, Cristiano Ronaldo é acaso ou fado em Portugal? Ah, se Amália entre nós estivesse? Não haveria dúvida de quem seria o muso do fado de todos os lusitanos. CR7 adiou minha nostalgia.

(*) Engenheiro

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