Um menino com idade próxima aos oito anos no colo do avô, após afagar aqueles cabelos
Um menino com idade próxima aos oito anos no colo do avô, após afagar aqueles cabelos prateados pelo tempo, indaga ao seu segundo herói:
– Vovô, sempre ouvi de você que a vida nunca foi fácil e seus dias foram de luta. Você veio do nada? Como é que é isso? Você me explica?
– Meu querido neto, explicar-lhe oitenta anos em alguns minutos é difícil, mas o vovô vai tentar. Esse “nada” era a falta de oportunidades em todos os sentidos naqueles tempos. Reinava por toda parte a escassez de trabalho, a não ser para usar a força, e o vovô sempre achou que tinha algum talento. Algo me palpitava dentr o dia que eu tiver a oportunidade para mudar os rumos de onde eu venho, certamente mudarei o meu destino. E mudei. Ser seu avô é uma amostra disso.
– Vovô - interpela o neto -, conte-me alguma coisa sobre o que você fez para chegar até aqui.
– Meu neto, sem eu mesmo saber, parece que havia uma imantação natural e, apesar das dificuldades, duas coisas sempre fiz: 1ª) desde menino procurei pessoas boas para ser minhas amigas; 2ª) na maioria dos casos essas pessoas tinham mais idade do que eu.
– E o que você via nessas duas coisas?, retrucou o neto.
– É fácil descrever, disse o avô. Dos bons extrai-se ou ganha-se só bondade. Nos mais velhos há muita experiência e, se são seus amigos, vão passá-la certamente. Fazendo por merecer, pode-se aliar a bondade vinda de uns com a experiência de outros. Se tudo vier de uma única pessoa, ótimo. A afinidade nas ideias e sentimentos geram e fomentam a verdadeira amizade. É isso aí, meu neto!
– Vovô, e por que você agradece e fala tanto sobre aqueles que o ajudaram lá... atrás?
– É um sinal de gratidão e aí aprendi que quanto mais gratos somos, mais merecedores nos tornamos. Ainda faço isso todos os dias. Veja numa casa, dois irmãos, um grato e o outro ingrato. Compare a vida de ambos e verá que o segundo só reclama e fica à espera de bons resultados. O primeiro trabalha e vai somando conquistas e mais conquistas. Depois dizem que ele (o grato) é de sorte.
– E o destino, meu querido velho?
Beijando aquela face rosada, o “vozão”, com voz arranhada, emendou algo muito seu:
– Antes eu achava que o destino era escrito na pedra, entalhado como escultura. Com o tempo fui vendo-o como se fosse escrito a tinta numa folha de papel. Depois clareou-me a vista e enxerguei que a escrita era a lápis. Usando a borracha do conhecimento, apaguei uns trechos e escrevi outros.
– A vida, comparada a um livro, é escrita com as oportunidades que aproveitamos ou perdemos. Deus não é pai para uns e padrasto para outros. Quando temos propósito de bem, as Leis Superiores se perfilam para nos ajudar e esse foi o meu caso - falou aquele avô como se estivesse pintando um quadro exemplar ao neto.
– Vô, eu não sei muito e nem entendi bem o que você disse, mas, de tudo isso, posso lhe pedir uma coisa?
– Até duas, “netão”, disse o avô.
– Vô, posso seguir o seu exemplo?