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Você me explica?

Um menino com idade próxima aos oito anos no colo do avô, após afagar aqueles cabelos

João Eurípedes Sabino
Publicado em 11/05/2018 às 21:30Atualizado em 16/12/2022 às 01:37
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Um menino com idade próxima aos oito anos no colo do avô, após afagar aqueles cabelos prateados pelo tempo, indaga ao seu segundo herói:

– Vovô, sempre ouvi de você que a vida nunca foi fácil e seus dias foram de luta. Você veio do nada? Como é que é isso? Você me explica?

– Meu querido neto, explicar-lhe oitenta anos em alguns minutos é difícil, mas o vovô vai tentar. Esse “nada” era a falta de oportunidades em todos os sentidos naqueles tempos. Reinava por toda parte a escassez de trabalho, a não ser para usar a força, e o vovô sempre achou que tinha algum talento. Algo me palpitava dentr o dia que eu tiver a oportunidade para mudar os rumos de onde eu venho, certamente mudarei o meu destino. E mudei. Ser seu avô é uma amostra disso.

– Vovô - interpela o neto -, conte-me alguma coisa sobre o que você fez para chegar até aqui.

– Meu neto, sem eu mesmo saber, parece que havia uma imantação natural e, apesar das dificuldades, duas coisas sempre fiz: 1ª) desde menino procurei pessoas boas para ser minhas amigas; 2ª) na maioria dos casos essas pessoas tinham mais idade do que eu.

– E o que você via nessas duas coisas?, retrucou o neto.

– É fácil descrever, disse o avô. Dos bons extrai-se ou ganha-se só bondade. Nos mais velhos há muita experiência e, se são seus amigos, vão passá-la certamente. Fazendo por merecer, pode-se aliar a bondade vinda de uns com a experiência de outros. Se tudo vier de uma única pessoa, ótimo. A afinidade nas ideias e sentimentos geram e fomentam a verdadeira amizade. É isso aí, meu neto!

– Vovô, e por que você agradece e fala tanto sobre aqueles que o ajudaram lá... atrás?

– É um sinal de gratidão e aí aprendi que quanto mais gratos somos, mais merecedores nos tornamos. Ainda faço isso todos os dias. Veja numa casa, dois irmãos, um grato e o outro ingrato. Compare a vida de ambos e verá que o segundo só reclama e fica à espera de bons resultados. O primeiro trabalha e vai somando conquistas e mais conquistas. Depois dizem que ele (o grato) é de sorte.

– E o destino, meu querido velho?

Beijando aquela face rosada, o “vozão”, com voz arranhada, emendou algo muito seu:

– Antes eu achava que o destino era escrito na pedra, entalhado como escultura. Com o tempo fui vendo-o como se fosse escrito a tinta numa folha de papel. Depois clareou-me a vista e enxerguei que a escrita era a lápis. Usando a borracha do conhecimento, apaguei uns trechos e escrevi outros.

– A vida, comparada a um livro, é escrita com as oportunidades que aproveitamos ou perdemos. Deus não é pai para uns e padrasto para outros. Quando temos propósito de bem, as Leis Superiores se perfilam para nos ajudar e esse foi o meu caso - falou aquele avô como se estivesse pintando um quadro exemplar ao neto.

– Vô, eu não sei muito e nem entendi bem o que você disse, mas, de tudo isso, posso lhe pedir uma coisa?

– Até duas, “netão”, disse o avô.

– Vô, posso seguir o seu exemplo?

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