De há muito sabemos que desde que haja persistência, tempo e condições físicas aceitáveis, o homem se adapta a tudo. De fato, acontece. Os halterofilistas que se dedicam aos levantamentos de pesos e se apresentam em certames de competições, em seus exercícios diários, aumentam constantemente os pesos se adaptando a eles.
Aquele que ontem corria 100 metros e parava esbaforido, parecendo morrer, ao persistir aquele exercício, no amanhã em razão de sua adaptação, poderá até vir a ser um campeão. O maior acontecimento da adaptação que a historia revela, se refere à Mitrídates (Rei do Ponto Euxino- Azia). Era lei... Herdava-se a coroa e a passava para outro da família. Também era lei que aquele que não fizesse boa administração, seria condenado a tomar Sicuta (veneno da época), em pleno público.
Logo percebendo que seria condenado porque não tinha tino administrativo, foi de forma inteligente, tomando dosagens aumentativas daquele veneno. O seu esperado dia chegou. Tranquilo, se apresentou em pleno público como exigia a lei, tomando goladas e goladas de Sicuta, sem nada lhe acontecer. Diz a historia, que Mitrídates foi o inventor dessa adaptação aos venenos. Por vezes, escutamos criaturas dizendo que não se adaptaram a isso ou aquilo. Certamente uma questão de tempo, porque o organismo a tudo se adapta. Embora mencionem que Mitrídates tenha sido o criador da conduta de adaptação aos venenos, particularmente acho que também se estende aos medicamentos.
Quando ainda exercia a profissão no consultório, certa paciente me falou que foi obrigada a tomar 30 gotas de novalgina porque a dor que ela sentiu após o efeito do anestésico, foi maior que a dor do parto de seu menino. Depois de ouvi-la, lhe perguntei há quanto tempo tomava 30 gotas de novalgina? Após sua resposta, lhe contei a historia de Mitrídates. Sorrindo, e delicadamente, continuei: A senhora já está na Mi-tri-da-ti-sa-ção das 30 gotas de novalgina. Se tivesse tomado 40 gotas ou outro analgésico fora de seu costume, certamente o efeito que a senhora esperava, teria ocorrido. A tudo que se repete, o organismo se adapta.
Por exemplo, quando se pesca, sempre se permanece olhando atento a ponta da vara. Por incrível que possa parecer, conhecemos um senhor proprietário de um restaurante às margens do Rio Grande (Delta), que pescava colocando a vara sobre o ombro, ficando de costa para a ponta da vara. Ao lhe perguntar, respondeu que era seu costume e que se adaptou a pescar assim.
Manoel Therezo
Pof. (emérito) da Faculdade de Odontologia e Ex-Vice Diretor Geral das Faculdades Integradas de Uberaba (FIUBE) - portaria 5/76