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A casa onde Zote nasceu

Caro(a) leitor(a). Você é testemunha da minha preocupação em preservar o nosso patrimônio

João Eurípedes Sabino
Publicado em 04/05/2018 às 20:55Atualizado em 16/12/2022 às 04:02
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Caro(a) leitor(a). Você é testemunha da minha preocupação em preservar o nosso patrimônio histórico e outros valores que compõem o acervo cultural de Uberaba. Dia desses falei aqui sobre a demolição sumária que sofreu a residência onde nasceu o cidadão José Formiga do Nascimento, o lendário Zote.

Hoje, com a sua permissão, volto ao assunto, abordando-o em forma de poema para que fique expresso o quanto sofre o coração do poeta quando os valores do passado são destruídos. Aqui, leitor(a), dou-lhe de presente o poema: A casa onde Zote nasceu.     

Não adiantou choramingar / Nem pedir nem reclamar / Acabou indo pro chão / A casa onde Zote nasceu / Nada dela hoje tem mais não. Mais de cem anos em pé / Acabei perdendo a fé / Quando vi sendo demolida / A casa onde Zote nasceu / Da nossa cidade foi pra sempre banida. De pedra eram as bases da casa / De tapiocanga encheram cava por cava / Os baldrames e esteios eram de aroeira / A casa onde Zote nasceu / Em poucos dias virou entulho e poeira. Nos cantos nas portas e janelas / Eram de lei as madeiras dela / Outros cem anos ela duraria / A casa onde Zote nasceu / O tempo sozinho oh, não a derrubaria. Bem pequena e simples na verdade / Era das últimas da cidade / Não tiveram a menor clemência / A casa onde Zote nasceu / Caiu por pura farta de benevolência. Ali o menino Zote foi gerado / Veio ao mundo por Deus abençoado / Sinomar e Maria Abadia outros filhos geraram / A casa onde Zote nasceu / Em poucas horas aquela relíquia dizimaram. Os tijolos maciços as telhas comuns e tudo enfim / Foram feitos num tempo muito antes de mim / Os donos foram Bento Polveiro e Osório Adriano / A casa onde Zote nasceu / Caiu nos meses de março e abril desse ano[2018]. Mais uma página da história / Apagaram da nossa memória / Ao ser destruído o berço do menino / A casa onde Zote nasceu / Sumiu e o seu terreno terá outro destino. O povo foi pego de surpresa / Chorou mas o poder venceu sua fraqueza. Lamentar oh, não adianta mais / A casa onde Zote nasceu / O patrimônio histórico não a trará jamais. Podem demolir tudo e nenhuma marca ficar / Sinal nenhum pra poder recordar / Mas do coração ninguém apaga / A casa onde Zote nasceu / Ruiu, mas Deus é pai e agora nos afaga.

NOTA: Zote nasceu no dia 23 de março de 1923, à Rua José de Alencar, na casa de número 376, antigo 68, hoje inexistente.

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