ARTICULISTAS

Achados e perdidos

Na arrumação doméstica sazonal, seleciono, em minha estante, objetos, impressos, revistas e livros que podem ser dispensados...

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 10/04/2018 às 08:56Atualizado em 16/12/2022 às 04:52
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Na arrumação doméstica sazonal, seleciono, em minha estante, objetos, impressos, revistas e livros que podem ser dispensados. Uma espécie de achados e perdidos que de tempos em tempos são peneirados. Mexo, remexo e acho que conseguirei desfazer de muita coisa que junto por anos e anos. No entanto, as recordações superam a praticidade e falam mais alto, impedindo o desfazimento da maioria dos guardados, que ganha fôlego até a faxina seguinte. Parece que preservar por perto fragmentos de minha vida conforta-me e assegura-me de não perder contato com a linha do tempo. É tão agradável deparar com um cartão de aniversário enviado por um ente querido, reler uma carta escrita à mão, um retrato em branco e preto ou em cores da turma da escola, dos amigos dispersos pelo mundo afora. Também é valioso poder tocar cada foto, livro, revista, anotações, sentir o cheiro do tempo que exala da ampulheta que insisto em manter na estante. Desta vez chamou-me atenção e atraiu-me para as profundezas de suas páginas incontáveis de doze volumes a enciclopédia Delta-Larousse que ganhei de presente da minha querida e saudosa mãe, ao completar onze anos de idade. Folheei aleatoriamente diversos livros de sua dúzia. Manuseando-os cuidadosamente, embarquei no trem do retorno, a viagem inconsciente que nos descola do atual e nos transporta de volta em busca de nós mesmos, espécie de ajuntamento de peças do nosso mosaico existencial. Vi e li tanta coisa do Mundo guardado na enciclopédia desde os primórdios até 1970. Lá está um inestimável arsenal de informações, cuja busca era um deleite na medida em que satisfazia nossa curiosidade e nos respondia às dúvidas e questionamentos que tínhamos em nossa vida de estudante. A enciclopédia impressa era o grande instrumento de busca. A revolucionária internet, fundamental em nossas vidas, tornou-a obsoleta e com isto desapareceu o vendedor de enciclopédia. Lembro-me, como se agora fosse, da visita do vendedor de enciclopédia, tanto no dia da compra quanto no da entrega, este último de imensa alegria. Rendo homenagem à figura importante do antigo vendedor de enciclopédia para diversas gerações e a tudo de positivo que também sucumbiu diante da implacável força do progresso e da tecnologia. Revigorado por preservar praticamente tudo, finalizo a faxina. Estou pronto para a próxima.

(*) Luiz Cláudio dos Reis Campos

Engenheiro

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