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Geração Coca-Cola plus?

A minha geração é aquela que não brincou na rua. Que não andava de bicicleta. Que não nadava sem roupa no rio...

Julia Castello Goulart
Publicado em 09/04/2018 às 07:48Atualizado em 16/12/2022 às 04:56
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A minha geração é aquela que não brincou na rua. Que não andava de bicicleta. Que não nadava sem roupa no rio. Que não conheceu a máquina de escrever. Que viu por pouco tempo a internet de escada e o videocassete. Vitrola, só a conhecemos porque virou cult. Não tivemos que lutar por uma democracia, porque nascemos em uma. Não fomos torturados ou censurados por uma ditadura e não tivemos que nos unir pelo fim de uma guerra sangrenta. Não convivemos nas escolas tanto com as piadinhas de loiras, gays, porque no nosso tempo existe o politicamente correto. As mulheres da minha geração não terão que se casar e ter filhos, se não quiserem. Os homens da minha geração não precisam necessariamente gostar de futebol ou de carro.

A minha geração não foi e não fez todas essas coisas e tantas outras que gerações passadas gostam de comparar. A verdade é que a nostalgia existe em todas as gerações e para cada uma delas a sua infância e a sua juventude foi a melhor, a mais saudável, a mais política, ou a mais criativa. A nossa geração atual é a geração mimada com pais que quiseram dar de tudo. É a geração que em livros e manchetes de jornais são as menos preparadas para o mundo e as que sofrem mais com a dificuldade de se frustrarem.

Nossa geração ainda não teve um Einstein, nem um Shakespeare, nem um Mozart, nem um Van Gogh. Mas, numa geração em que somos influenciados a crescer cada vez mais rápido que outras, já se espera mesmo, muito cedo, muito de nós. Ainda assim, mesmo o e-mail, a carta não tenha sido nossa realidade, já disseram que seríamos a geração do nem-nem, a geração do mi-mi, que só reclamam e criticam nas redes sociais.

No dia 24 de março, um sábado, gerações mais velhas e até a nossa própria se surpreenderam com a força de um movimento jovem nos Estados Unidos a favor de um maior controle da venda de armas. Uma das organizadoras do evento, sobrevivente do último massacre ocorrido em uma escola na Flórida, tinha apenas 18 anos. Um assunto que por tanto tempo era intocável nos Estados Unidos, por ser considerado um direito, foi questionado por milhares de jovens, a nova geração, no mundo todo.

Se por tanto tempo ouvimos que somos o futuro do mundo, começamos a pensar agora em que tipo de mundo queremos viver. Não é um movimento isolado. Há alguns anos, no Brasil, estudantes se uniram contra a Reforma do Ensino Médio em 2016, em todo o país, e em 2013 aderiram ao Movimento Passe Livre. Concordando ou não com o tipo das lutas que a nossa geração compra, nós somos a geração como um dia foi a de vocês, a lutar por um mundo que se acredita melhor.

Um mundo que talvez nunca girou tão rápido, mas que encontramos uma forma, seja pelas redes sociais ou fora dela, de buscar nosso tempo e novos caminhos, ainda não percorridos. O mundo gira com mudanças e somos a geração a conquistá-las.

(*) Julia Castello Goulart

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