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Até onde estou errado?

Há certos fatos que nos obrigam a refletir, exatamente porque importam a todos nós

João Eurípedes Sabino
Publicado em 23/03/2018 às 21:00Atualizado em 16/12/2022 às 05:22
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Há certos fatos que nos obrigam a refletir, exatamente porque importam a todos nós. Os episódios aqui abordados são por demais corriqueiros, infelizmente.

Eles me ocorreram recentemente: no primeiro, um jovem com baixíssimo peso e esguio se dirige a mim com semblante de quem estava há muito sem dormir e comer. E diz: “Padrinho, pode me dar R$1,35? Quero comprar um salgado”. Eu não tinha R$1,35 e lhe dei uma nota de R$2. O jovem me agradeceu, fez meia volta e bradou aos colegas à meia distância: “Não falei que ele não tinha R$1,35? Ganhei R$2!”. Montou numa bela bicicleta e imprimiu boa velocidade. Desapareceu.

Uma hora depois, num posto de rodovia, fui abordado por outro jovem com aspectos semelhantes ao primeiro. Sem querer reparar, percebi que ele retorcia o corpo e tinha certa deformidade em seus dedos da mão direita, além de ter o punho curvado para dentro. “Padrinho, estou com fome. Me dá um real para eu comprar um salgado.” Por não ter um real, lhe-dei também uma nota de R$2. O jovem rumou para uma passarela elevada e, no percurso, aprumou o corpo, além de desenrolar seu braço. Encontrou-se com amigos e de lá monitoravam o movimento no posto. Observem que os dois “necessitados” mentiram.

Longe de mim pensar que ambos não eram boa gente, mas que deram margem a isso, não tenhamos dúvidas.

Fico me perguntand até onde estou errado quando dou um adjutório em moeda, se o ganhador, via de regra, faz tão pouco ou nada para merecê-la? Há algo bíblic tudo conseguido de graça sempre não é valorizado. Matar a fome de alguém é caridade comum, mas concorrer para que esse alguém não venha a sentir fome é caridade transcendente.

Temos visto tantos jovens pedindo, mesmo sendo possuidores de mountain bikes. Outros que, com suas mãos, não lutam pelo pão de cada dia. E por que, mesmo sabendo disso, insistimos em lhes dar dinheiro? O bem não deve morrer naquele que o recebe. Aí está o nosso equívoco quando fazemos a caridade pontual, se ela, por ser uma Lei, deveria ser no sentido amplo e voltada aos valores do ser. Dá-me pena ver jovens vagando sem rumo como se a dignidade tivesse rompido com eles. Sofrem todos eles, suas famílias e outras pessoas sensíveis.

E pensar que tudo começa depois de um simples contato com as drogas. Assim o cantor Nelson Gonçalves foi ao fundo do poço e de lá ressurgiu, resgatado pela heroica esposa Maria Luíza da Silva.

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