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Consciência Política e Informação II

A frustração do voto deriva, pois, da falta de informação exata, precisa, já que em geral

Guido Bilharinho
Publicado em 16/03/2018 às 19:22Atualizado em 16/12/2022 às 05:33
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A Frustração do Voto

(Conclusão)

A frustração do voto deriva, pois, da falta de informação exata, precisa, já que em geral os candidatos camuflam-se, tentando passar por representantes de toda a sociedade como se ela fosse una e não dividida em classes, com interesses ora comuns, ora conflitantes. No primeiro caso, por exemplo, porque interessa, normalmente, a empregador e empregados a sobrevivência da fábrica, já que, com sua falência, aquele perderia um bem e, estes, a fonte de emprego. No segundo caso, porque, basicamente, os empregados estão excluídos da propriedade e, ainda, porque a acumulação de capital se faz em detrimento do trabalho, mediante a apropriação pelo detentor dos meios de produção da diferença entre o preço pago à força de trabalho e o valor do que ela efetivamente produz, sempre superior àquele, o que é denominado “mais-valia”, daí decorrendo a contradição fundamental da sociedade.

Os candidatos, pois, em sua maioria, é que procuram enganar o eleitor, tanto do ponto de vista de suas qualificações pessoais, blazonando qualidades que não têm, ou alardeando defender interesses que, na realidade, não defendem, visto que irão apenas se locupletar ou patrocinar as pretensões dos grupos que financiam suas campanhas.

Essa categoria de eleitores, pois, sabe votar, já que ninguém, em sã consciência, escolhe, deliberadamente, candidato que apoie e favoreça interesses contrários aos que se é, pensa e sente, a não ser quando vítima da transferência ideológica, mas, nesse caso, votando contra o que se é, não porém, contra o que se pensa.

O candidato, sim, é que é enganador, simples isca para captar voto. O peixe não abocanharia a isca se soubesse (ou seu instinto indicasse) o que ela é para além da aparência.

À semelhança, pois, do peixe, o povo, na maioria das vezes, engole a isca, o que é facilitado pelo componente de sonho e esperança que porta em si, votando em candidatos que, ao invés de representá-lo, irão defender outra classe social ou, quando menos, apenas procurarão locupletar-se e fazer da política mera carreira ou profissão.

Saber votar não é, pois, questão de educação e instrução, mas de informação. Se assim não fosse, os analfabetos votariam no mesmo candidato, o que não se dá.

Por sua vez, a informação é facilitada, tanto pela democratização dos meios de comunicação, como pela instrução, que todavia, não são conditio sine qua non daquela. A maior, menor ou nenhuma informação do eleitor depende fundamentalmente de suas possibilidades de acessá-la, de sua responsabilidade cívica, de seu interesse pela política, procurando conhecer os candidatos, acompanhando e fiscalizando, dentro do possível, o desempenho dos eleitos, individualmente e/ou por meio de suas associações de classe e organismos especializados (a serem urgentemente criados), e reelegendo-os ou não em futuras eleições, que é uma das formas de controle externo (e pelo povo) das atividades legislativa e executiva, que ainda têm o judiciário e os tribunais de contas para examinar e julgar seus atos, o que, todavia, ainda não ocorre plenamente com esses últimos.

Daí se segue que o exercício da democracia constitui a condição mesma de aprimoramento do regime democrático e que qualquer quebra de seu curso normal visa justamente evitar a participação política do povo e o crescimento e aperfeiçoamento de seu grau de informação e politização, do que resultaria a eleição de representantes da maioria da sociedade e não, como acontece, a eleição de uma maioria de representantes da minoria do corpo social. Nesse descompasso, reside a origem da desorganização nacional, da exploração internacional de nossas riquezas, da grande concentração de renda e do desequilíbrio social que acarreta.

(do livro inédito Questões do Nosso Tempo)

(*) Advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 (https://revistadepoesiadimensao.blogspot.com.br) e autor de livros de literatura, cinema e história do Brasil e regional, publicando desde setembro último um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br

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