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A quem pertence o futuro?

Eu venho do futuro incumbido de antecipar e orientar quanto aos impactos do que lá se encontrará

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 09/01/2018 às 20:45Atualizado em 16/12/2022 às 07:24
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Eu venho do futuro incumbido de antecipar e orientar quanto aos impactos do que lá se encontrará. O futuro a que me refiro é o futuro breve, digamos assim. Não é aquele distante ao qual ainda nem tive acesso, mesmo porque parece ainda pendente de existência. Atenho-me ao futuro de onde me desloquei. Cabe-me a tarefa de agora anunciar muitas coisas com as quais se depararão. Adianto aqui que no futuro, logo ali, o que mais vi é a falta de noção do tempo. Não se sabe ao certo, talvez por não descoberto, o que fazer amanhã, por exemplo. O amanhã que digo não é o do presente que é meu passado. O amanhã que menciono é o do meu futuro que lá é o meu presente e que será o futuro do presente aos que faço esse relato. Não trago entusiasmo, esperança, boas novas e ufanismos de dias melhores. Seria aqui um leviano ilusionista a trair a quem me atarefou. Isso não se faz, notícias tenho de que o penúltimo que me antecedeu a trazer orientações do futuro a que pertencia, que fora o presente que eu vivia, entendeu-se de desvirtuar preciosas informações dando a elas contornos artificializados da realidade pura que deveria apresentar. Recebeu como castigo a proibição de voltar ao seu futuro que, repito, era meu presente. Custou-lhe a própria existência. Impedido de retornar ao futuro, morreu no passado sem jamais poder viver o presente. Quando se é destacado no futuro para regressar ao seu passado e viver o presente dos outros, sabe-se largamente da imensa responsabilidade atribuída. Portanto, trago de lá o que tenho pra contar ao pé da letra. O futuro, na verdade, não existe. Ele é inatingível. É apenas sensação. Quem nele chega, já chega tarde. Já se encontra no presente. Não há futuro que se alcance. O horizonte de cada um é a medida certa do que se enxerga no que se vive o seu agora. O melhor e o pior do futuro é saber que ele não existe. Assim quando digo que venho do futuro, estou dizendo que venho do nada. Esta é única verdade que trago. Negar o futuro é afirmar a vida. O futuro pertence a quem não o viverá.  

(*) Engenheiro

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