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Superstições

O dia era 31 de dezembro. Passavam poucos minutos das onze da noite. Rio de Janeiro

Gustavo Hoffay
Publicado em 06/01/2018 às 20:39Atualizado em 16/12/2022 às 07:30
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O dia era 31 de dezembro. Passavam poucos minutos das onze da noite. Rio de Janeiro, Posto Cinco, Copacabana e, desde cedo, densa expectativa de que nuvens plúmbeas desaguassem sobre milhares de pessoas que se acotovelavam sobre a areia da praia, no calçadão e na avenida Atlântica. A previsão estava “furada”. Esposa, filha, cunhadas e sobrinhos adiantaram-me que três pulinhos sobre as ondas trariam boa sorte para o ano que logo teria início. E lá foram todos dar os seus pulinhos, menos eu. Sem afastar-me sequer um metro do local de onde eu assistiria ao grandioso espetáculo da queima dos fogos, eu havia lembrado a todos que tomassem muito cuidado com o nosso “desconhecido” mar, com o seu verde-anil e “que efervesce na praia como leite a derramar”...como já dizia um poeta. “Pular ondas”, pensei. E logo veio-me à memória os conselhos que eu recebia da minha avó Noêmia: “Olha lá, uma estrela cadente; faça um pedido e será atendido”. Minha mãe, por sua vez, alertava a mim e aos meus irmãos e em ocasiões diferentes, para que “batêssemos três vezes na madeira”, “cruzássemos os dedos das mãos” e a “não passarmos debaixo de escadas”. Enfim, a lista de superstições dos “antigos” era longa e, vim a saber depois, não era algo exclusivo de brasileiros e muito embora cada região do nosso país possuísse o seu próprio rol daquelas “esquisitices”. Em pleno século XXI e em qualquer ambiente, humilde ou sofisticado observamos curiosas manifestações e, junto com elas, alguns casos que beiram a profanação da consciência da maioria de quem as assiste ou delas toma conhecimento. E o que dizer sobre as previsões para o ano vindouro, entre elas as afirmações da ocorrência de grandes tragédias em diversas partes do mundo e até a morte de conhecidos personagens nas esferas artística, esportiva e política? E os ditos “sonhos proféticos”? Até livros já foram escritos a esse respeito, para a garantia da formação de um (muito bom) pé-de-meia aos seus autores... Francamente, que há de sensato em tudo isso, em tantas superstições? Que há de garantia nas previsões astrológicas que pipocam ao fim de cada ano e em vista do ano seguinte? Qual a base científica de que utilizam os tais futurólogos e, se o são de fato, por que ainda não previram o resultado do sorteio de alguma Mega-Sena acumulada? Tá bom. Eu respeito aqueles cuja alma é profundamente mística, mas coloco-me em posição visceralmente oposta à dos mesmos e não tanto, é claro, quanto Hitler. O Fuhrer, quando se decepcionava com algumas previsões, infligia duros castigos àqueles que se diziam astrólogos. Ora! A imaginação e coincidências gratuitas são, na minha opinião, o que sustenta a astrologia praticada por videntes. Quanto às superstições... bem, imagino que essas são restos que sobrevivem de épocas passadas, desvios ou deterioração de sentimentos religiosos. Desculpem-me quem as tem, mas é o que penso.

(*) Agente social

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