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O público e o privado

Faz parte do cotidiano de nós, brasileiros, o famoso ato de pechinchar. Até com o pobre

Márcia Moreno Campos
Publicado em 10/12/2017 às 10:35Atualizado em 16/12/2022 às 08:22
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Faz parte do cotidiano de nós, brasileiros, o famoso ato de pechinchar. Até com o pobre vendedor de balas há quem requeira um descontinho e adora levar vantagem pagando menos e obtendo mais. Diferente atitude se nota quando o dinheiro a ser gasto é dinheiro público, que nada mais é do que o dinheiro dos nossos impostos. Após pagar nossos tributos nos distanciamos do seu percurso, e deles pouco sabemos, a não ser quando o estrago está feito e tomamos conhecimento dos desvios, propinas, enriquecimentos ilícitos, e transferências para paraísos fiscais. Essa alienação nos custa caro. União, Estados e municípios, na maior desfaçatez do mundo, fecham seus orçamentos com déficits milionários, uma excrescência, em contraste com o que nós fazemos quando nossos ganhos são insuficientes, que é economizar no supérfluo e por vezes até no essencial.

No afã de proteger os contribuintes, a lei criou modalidades de licitação para dificultar as manobras escusas e beneficiadoras de parentes e afins, na mais ingênua ilusão de que isso seria suficiente para poupar recursos. Que engano! Prontamente inventaram os aditivos e dificilmente uma licitação sai pelo preço inicial licitado. Esse engessamento necessário provocou também situações inusitadas onde são criados vários orçamentos falsos apenas para cumprir a legislação vigente e garantir o jogo de cartas marcadas, muito distante da necessária economia que a realidade impõe. Recursos, quando são destinados por algum político a uma demanda da população, são comemorados como se atendessem à finalidade para o qual foram solicitados. Longe, muito longe disso. Se perdem na burocracia, na displicência, na má gestão e na maneira mais fácil de fazer acontecer, sem preocupação com eficiência e planejamento. Em um estudo recente do Banco Mundial ficou constatado que o Brasil gasta mais do que pode e gasta mal. Quem não sabia disso?

Temos milhares de exemplos de equipamentos enferrujados dentro de caixas, de obras paradas depois de gastos milhões nelas, de medicamentos vencidos sendo descartados, de inaugurações de promessas. Muito triste presenciar tudo isso. Nossa finada planta de amônia é um exemplo claro de desperdício e má gestão de dinheiro público. Qual empresa privada ousaria começar um investimento desses sem antes ter garantido o gasoduto que abasteceria a fábrica? E fica tudo por isso mesmo. Governos sucedendo governos e mantendo as inconsequências dos anteriores. Nas palavras de Churchill, “o preço da grandeza é a responsabilidade”. Estamos muito longe disso.

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