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Abrindo a caixa de Pandora: vitimização

Pensar, falar e escrever sobre violência em suas diversas configurações – violência familiar...

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 06/12/2017 às 18:31Atualizado em 16/12/2022 às 08:30
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Pensar, falar e escrever sobre violência em suas diversas configurações – violência familiar, social, contra a criança, abusos sexuais, assédios no trabalho ou nos transportes coletivos, estupros – assume uma atitude semelhante à abertura da “Caixa de Pandora”; muitos evitam essa situação temendo as monstruosidades que podem sair de uma caixa que deveria permanecer fechada. Exemplificando, podemos nos lembrar da atitude de alguns profissionais da saúde que preferem não aprofundar na busca dos motivos de uma fratura craniana, dentro da lógica que não nos interessa se uma árvore caiu sobre a cabeça da vítima ou se foi devido ao ataque com um “Taco de Golfe”. Sabemos que esse panorama é comum no Brasil e que muitas vítimas da violência saem dos hospitais sem a devida atenção. Em contrapartida, foi criada, recentemente, a disciplina “Vitimologia”, nos Estados Unidos; consiste em analisar as razões que levam um indivíduo a se tornar vulnerável nos processos de vitimização, as consequências que isso lhe causa e os direitos a que dispõe.

A psicanalista francesa Marie France Hirigoyen tem uma visão particular sobre a violência na contemporaneidade singular e atrativa. Para ela, “a perversão fascina, seduz e, embora assuste, fica-se do lado dos indivíduos perversos porque se sabe que isso é melhor do que ficar contra eles. É a lei do mais forte. O mais admirado é aquele que sabe gozar melhor e sofrer menos”. Ela, também, alerta contra qualquer tentativa de banalização da violência, apontando para as “violências insidiosas” que podem ocorrer num casal, numa família e num emprego, analisando os mecanismos determinantes tanto do agressor quanto da vítima. Para ela, na maioria das vezes, as pessoas próximas se tornam cúmplices da situação, por não poder admitir a violência nos ambientes familiares pela possibilidade de identificação e consequente recalque. Já para Marilene Chaui, a imagem do Mal e a da vítima são dotadas de poder midiátic são poderosas imagens de espetáculo para nossa indignação e compaixão, acalmando nossa consciência. Precisamos das imagens da violência e do Mal para nos considerarmos sujeitos éticos.

É impossível negar que a violência, atualmente, é um espetáculo; basta acompanhar as notícias escritas ou televisionadas! Fora o caráter de excitabilidade que constitui pela sua ligação com a sexualidade, é bom termos sempre em mente que nosso momento cultural passa e se atém ao exibicionismo e seu par perverso voyeurista... Exemplos não faltam: Big Brothers, Reality Show ou Casa dos Artistas; tão rigorosamente presentes a ponto de este tempo ser conhecido por “Cultura Perversa”.

(*) Psicóloga e psicanalista

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