ARTICULISTAS

Mensagem pra você

Parafraseio um artigo divulgado pela mídia sobre o quão complexo é perceber a intenção...

Mário Salvador
Publicado em 07/11/2017 às 21:24Atualizado em 16/12/2022 às 09:14
Compartilhar

Parafraseio um artigo divulgado pela mídia sobre o quão complexo é perceber a intenção de quem escreve uma mensagem. Noutras épocas, morando fora, um estudante telegrafou ao pai: “Mande dinheiro”. Notando o marido furioso ao ler essa ordem do filho, a esposa remediou: “Você interpretou errado um pedido respeitoso e aflito de socorro”. Num tom mais humilde e suplicante, ela leu o pedido, o que bastou para o esposo se acalmar e mandar o dinheiro para o filho.

Verídica ou não, a história nos alerta para o fato de que, mesmo não sendo escritas com essa intenção, as mensagens podem magoar, dando cabo de velhas amizades, romances e outros relacionamentos. Esses desencontros são parte da vida. E, se escrevemos, há a possibilidade de o leitor confiar em nós (talvez desconfiando) ou até nem confiar. Não é à toa que a sabedoria popular sugere termos sempre um pé atrás. Sabendo dessas reservas, precisamos nos resguardar, cuidando de estarmos atentos ao nos dirigirmos a terceiros, principalmente por escrito.

Segundo Milton Nascimento, amigo “é coisa pra se guardar”. Assim, não é natural uma amizade se desfazer ou existir desconfiança na amizade. Apesar disso, uma quadrinha ensina: “Amizade e confiança são duas coisas iguais. Perdidas por uma vez, perdidas pra nunca mais”. Talvez seja exagero. Entretanto, caso surjam equívocos durante um convívio, é possível dissipá-los como o fez aquela mãe na história do telegrama: optando por agir com calma, deve-se buscar o diálogo, esclarecer o imbróglio e tentar reatar o relacionamento extremado. Já ensinava a música Cana Verde: “O amor que vai e volta/ na volta sempre é melhor”. E, com a força do diálogo, seja no amor, seja na amizade, o relacionamento pode seguir firme; sem pé atrás.

Enquanto na fala a intenção do interlocutor é percebida com facilidade pelo ouvinte, ao interpretar mensagens escritas o leitor apenas supõe a intenção do emissor. No caso da história do telegrama, ainda há que se observar que o verbo empregado no modo imperativo serve tanto para pedir (por favor, dê-me um café!) quanto para ordenar (dê-me um café, estou mandando!). E, diferentemente do que ocorre nas narrativas literárias, que invariavelmente apresentam verbos de elocução (exemplos: gritou o menino; lamentou a mãe; implorou o réu; ordenou o rei...), mensagens escritas no dia a dia nem sempre deixam clara a intenção do emissor.

Uma opção inteligente para deixar transparecer a emoção de quem escreve é o uso de um recurso que veio com a tecnologia - os emoticons, ícones que imitam a expressão facial. Como a história que contamos é da época áurea dos telegramas – que não usavam emoticons - e, provavelmente, o estudante estava sem dinheiro para acrescentar “por favor” e “se possível” (já que o número de palavras determina o custo do telegrama), ele criou um problema, que acabou contornado pela mãe. Como nem sempre as mães poderão intervir e nem sempre podemos nos valer dos emoticons, é preciso cautela tanto ao redigir quanto ao analisar textos. É isso.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por