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Incertezas teóricas e afins

No último feriado, aproveitei para ir à praia com a esposa. O deslocamento pelas estradas...

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 05/11/2017 às 10:52Atualizado em 16/12/2022 às 09:19
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No último feriado, aproveitei para ir à praia com a esposa. O deslocamento pelas estradas não anda nada fácil, mas lá fomos nós, sabendo que teríamos de enfrentar trânsito pesado, na ida e na volta, insegurança e outros perigos; mas não estou aqui para reclamar da vida. Arrumamos as malas e, como se diz, colocamos o pé na estrada, porque mineiro gosta de praia e eu aprecio uma boa leitura, numa gostosa espreguiçadeira ao som das ondas... Foi bom.

No segundo dia, à tarde, minha esposa preferiu tirar uma soneca depois do almoço, o famoso sono da beleza, e eu fui me sentar na mureta que ficava em frente à pousadinha. Queria sentir a brisa fresca do mar e ficar ali, só olhando as ondas. Tem coisa mais relaxante?

A cidade estava cheia e muita gente teve a mesma ideia que eu, de modo que a mureta estava lotada, parecíamos papagaios num poleiro. Por mais que eu quisesse ficar quieto, era impossível não prestar atenção nas conversas.

Como não consigo ficar alheio ao que se passa ao redor, escutei mais do que devia, mais do que queria, conversas curiosas, por sinal. Um casal do meu lado esquerdo discutia se a Terra era plana ou não. Hein? Isso mesmo, não era gozação, eles falavam a sério. A mocinha tinha noções de geografia, um conhecimento elementar de cartografia, mas não conseguia convencer o namorado. Ele não era ignorante, mas confuso e bastante teimoso. Bastaria um leve toque no display do celular e tudo estaria resolvido, mas acho que, pra eles, o celular tinha outras funções, não era para fazer pesquisas. Não chegaram a nenhuma conclusão e resolveram sair dali para tomar um sorvete. Antes assim!

Outra conversa impressionante que meus ouvidos captaram foi uma discussão sobre o céu. Eram quatro rapazes, e eles afirmavam que o que viam “lá em cima” era sólido, fixo, lugar de morada de “entidades”, embora eles não soubessem identificar ao certo quem eram, se deuses, anjos, arcanjos, espíritos, extraterrestres... Qualquer coisa! Falavam de estrelas, de dia e noite, de rotação e translação, mas o céu era algo como o antigo firmamento das teorias medievais, antes de Copérnico e Galileu, que não foram sequer mencionados. Achei que queriam me impressionar ou me afastar dali, mas falavam com certeza, com arrogância, convictos. Não eram meninos de oito anos nem adolescentes, eram moços de mais de vinte anos, deviam cursar faculdade. Felizmente, a conversa não deu em nada, logo se esgotou por falta de conteúdo e eles foram beber cerveja num barzinho do outro lado da avenida. Ufa!

Fui para um canto mais isolado, temendo ter de escutar mais abobrinhas como aquelas. Ainda bem que não falaram sobre política, corrupção, meio ambiente, arte, sexualidade... Já imaginaram! A sensação que tive é que não estávamos no presente. Será que tínhamos voltado no tempo?

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