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Preparar, apontar... fogo?

A notícia de vários tipos de violência nos choca hoje. Atentados ocorrem na Europa...

Julia Castello Goulart
Publicado em 24/10/2017 às 20:59Atualizado em 16/12/2022 às 09:36
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A notícia de vários tipos de violência nos choca hoje. Atentados ocorrem na Europa, nos Estados Unidos e aguardamos a notícia de emergência para saber o número de mortos. O número e o país em que ocorre o atentado, para nós é tão relevante que estampam nas nossas redes sociais e permanecem nas conversas até semanas depois da data do ocorrido. O atentado em Las Vegas é só mais um dos 156 grandes tiroteios que ocorreram nos Estados Unidos, que deram origem à triste média de 121 mortes por ano no país. Entre os mortos, Marias e Josés.

O curioso é que, ao mesmo tempo em que essas mortes ocorrem, outras Marias e outros Josés estão indo e mantendo um rancho no Texas, que sobrevive de turismo de guerra. Isso mesmo, no rancho OX Hunting, localizado na cidade de Uvalde, é possível atirar com vários tipos de armas e entrar em tanques como forma de turismo. Outras Marias e outros Josés já ganham dinheiro não com turismo, mas com a própria fabricação de armas. Empresas como Ruger, Savage Arms, Smith & Wesson, Taurus. Uma dessas, brasileira.

Enquanto países compram armas feitas em nosso solo, “guerras” isoladas aqui acontecem. Mas, não guerras como as da Síria, porque aqui o “inimigo” e o “herói”, se existirem heróis em uma guerra, são ambos brasileiros. O que acontece nas favelas brasileiras, atualmente as do Rio de Janeiro, apresentou uma das maiores ironias do nosso país; pessoas preocupadas com os tiroteios, não pelas pessoas que ali moram, mas pelas pessoas que estavam se deslocando para o Rock in Rio.

Quando se trata de violência, independente de qual violência for, independente de qual partido, da classe social, gênero ou raça, nenhuma vida deveria ser retirada com uma arma de fogo. É muito mais fácil aceitar as mortes que vemos todos os dias, porque elas não possuem rosto, nem nome, nem história para nós, são apenas números. Aos que defendem o uso de armas no Brasil para os cidadãos, como o próximo candidato Trump brasileiro expõe, Jair Bolsonaro, é querer não ver, não os números, mas as dezenas, milhares de vidas que são tiradas todos os dias por uma arma.

Enquanto o Japão dificulta o porte de armas, sendo necessários dias para passar em provas, fazer antidoping e exames psicológicos, brasileiros estão pensando em aumentar a produção e consumo para que todos possam se “proteger”. De quem? Quem são os inimigos? Segundo a BBC, o Japão está quase extinguindo as mortes ocorridas por armas de fogo, são seis mortes no país, comparado com as 33.599 mortes nos Estados Unidos.

Se prepare, pois já dizia Hobbes, que o homem é o lobo do próprio homem. Eu já atualizaria, em estado de “lobo” permanecemos, porque estamos cada vez mais longe de “homens”.

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