Escrevo movida pela leitura do excelente livro do Dr. Drauzio Varella intitulado “Prisioneiras”, que encerra a trilogia começada com “Estação Carandiru e seguida por “Carcereiros”. Trata-se de um livro sensível, realista e desconcertante, que recomendo a todos aqueles que se preocupam com o avassalador quadro de violência fora e dentro dos presídios brasileiros. Dr. Drauzio se vale da experiência como médico em cadeias masculinas e femininas para traçar um panorama da situação carcerária no Brasil e descreve a realidade de forma dura e muito difícil de ser mudada.
A combinação de vaidade e comodismo para enfrentar o problema de segurança pública me leva a crer que não encontraremos soluções certas e duradouras, principalmente porque sequer são tentadas. Na ausência da proteção do Estado, a criminalidade se impõe e cria seu próprio código de conduta, rigoroso, implacável e cruel, mas protetor para os seus. Os condenados e condenadas, ao adentrarem uma penitenciária, se tornam mil vezes mais vulneráveis do que fora delas, e, para não sofrerem abusos, agressões e até morte, se submetem a uma organização criminosa que comanda o lugar e da qual nunca mais poderão sair. As mulheres, quando são pegas levando drogas para seus companheiros encarcerados, são detidas imediatamente, deixando para trás quatro, cinco ou mais filhos que serão separados e esparramados pelo mundo. Que futuro os espera?
O problema é sério e precisa ser encarado em profundidade. Fazer um trabalho bem feito de planejamento familiar; construir albergues para acolher os filhos abandonados das prisioneiras; revisar leis ultrapassadas; separar os que cometem delitos menos graves para que não caiam nas mãos das organizações criminosas e enfrentar de verdade a destruição causada pelas drogas. Enquanto os políticos se preocupam em fazer leis desnecessárias e ridículas, o pânico e a insegurança se espalham pelo país. As cidades brasileiras sofrem cada vez mais com a violência e, para combatê-la, nos oferecem discursos inócuos, reuniões improdutivas e disputas pela paternidade de medidas atenuantes. Infelizmente, nem a vida humana sensibiliza e motiva nossos representantes a agir.
(*) Marcia Moreno Campos