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Do homem cordial ao violento

A passagem do cordial ao violento deu-se num piscar de olhos, simplesmente depois desta última...

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 27/09/2017 às 21:27Atualizado em 16/12/2022 às 10:13
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A passagem do cordial ao violento deu-se num piscar de olhos, simplesmente depois desta última e derradeira crise econômica acrescida dos escândalos infindáveis e catastróficos oriundos da revelação inquestionável sobre a corrupção, propinas, quadrilhas e lavagem de dinheiro, há muito no cenário político brasileiro. Com isso revelou-se o verdadeiro caráter do brasileiro, já que a cordialidade apenas tentava encobrir o autêntico homem violent aquele que sempre quer tirar vantagem em tudo, na fantasia que sua esperteza o colocaria em absoluto 1º lugar. Nisso constatamos diferenças fundantes em relação a outros povos, outros países e culturas onde uma guerra resulta em resgate de tudo que havia sido abandonado e reconstrução primorosa de tudo que havia sido detonado.

Parece que o brasileiro de hoje se organiza nos planejamentos detalhados e nas sórdidas maquinações, elaborando, para em seguida executar, “golpes” aos irmãos cívicos, que também enfrentam as mesmas condições sociais na busca de lucro rápido e fácil. Ninguém está livre destas tentativas. A imaginação fértil e a ociosidade secular tornam-se condições de êxito.

Alguns “golpes” são velhos conhecidos, mas as pessoas continuam acreditando nas armadilhas, com o bilhete premiado, que o golpista não pode retirar do banco; o pedido de socorro de um filho em situação de risco; os créditos para celulares; os falsos sequestros; as ajudas desinteressadas para utilização dos caixas eletrônicos; os pedidos de renovações cadastrais bancárias; as urgências para desobstrução de garagens... Mas, a cada dia são criadas novas e inesperadas situações.

Na semana passada, em plena tarde de muito trabalho, recebi telefonemas repetidos de “pessoas generosas” quanto ao meu bem-estar, na tentativa de impedir dificuldades futuras com a “Junta Comercial”, avisando-me sobre uma correspondência importante que não pode ser entregue e, portanto, eu deveria contatar a empresa portadora da mesma. Minha surpresa foi ser notificada de faturas junto à Brasil Telecom, referentes aos anos anteriores 2015, 2016 e 2017, em via de serem encaminhadas para protesto, a não ser que eu tentasse um acordo para possível abatimento no valor das mesmas. Mesmo não tendo “caído no golpe”, senti-me envelhecida seguramente em alguns anos por pensar que eles tinham me escolhido como “pato”, objetivando o ganho fácil de uma grande quantia de dinheiro. Infelizmente, não fiquei sabendo o valor que pediriam, uma vez que solicitei o envio das faturas para que pudesse entregar ao meu advogado.

Se ainda fôssemos abordar os roubos constantes, saberíamos, enfim, que por baixo da máscara do cordial existe um feroz indisciplinado, avesso ao trabalho, associal e narcisista.

(*) Psicóloga e psicanalista

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