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Ainda somos um tanto escravagistas

Com espanto, perguntaram a um amigo do cronista Carlos Heitor Cony (Folha de S.Paulo)...

Padre Prata
Publicado em 17/09/2017 às 01:01Atualizado em 16/12/2022 às 10:27
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Com espanto, perguntaram a um amigo do cronista Carlos Heitor Cony (Folha de S.Paulo): “É verdade que você se casou com uma negra?”. A idiotice da pergunta provocou uma resposta de alta sabedoria: “Casei-me com uma mulher”.

Quando Wagner foi eleito, uma senhora da sociedade conversando comigo, saiu-se com esta: “O que irão pensar da gente quando souberem, lá fora, que o prefeito de Uberaba é um preto?”.

Era amigo meu, de infância, o Benedito de Melo, filho mais novo de minha vizinha Dona Candoca. Tínhamos mais ou menos a mesma idade. Por causa de um problema de saúde e como vivia sozinho, contratou uma enfermeira para tomar conta dele. Era uma negra que lhe foi de uma dedicação exemplar. Com a proximidade, nasceu um grande amor que os levou ao casamento. Eu os vi muitas vezes, de mãos dadas, andando pela Major Eustáquio. Bem, não faltou um idiota para comentar comig “Você viu seu amigo, o Benedito, ‘ajuntou’ com uma negra. O que ela quer é o dinheiro dele”. Não é preciso dizer que o Benedito era pobre, não tinha nada. Eles se amavam.

Poderia dar mais alguns exemplos, mas estes três são o suficiente para deixar claro que todos nós somos racistas. Ainda há muita gente que considera o negro como inferior. Penso que já é tempo de superar esse ranço de mentalidade escravagista. Por que a cor da pele cria esse tipo de hierarquia social? Quanto mais branco mais inteligente? A verdade é que os negros não tiveram as oportunidades que tiveram e ainda têm os brancos. Só isso. Nosso modo de pensar é fruto de uma mentalidade de escravidão que ainda não conseguimos superar. Nossos bisavós legaram a seus descendentes esse padrão discriminatório. Lembro-me muito bem de como meus avós, refletindo a mentalidade da época, tratavam os negros: “Negro quando não suja na entrada suja na saída”; “essa porcaria que você fez é serviço de negro”; “ele é um negro com alma de branco”... e assim por diante.

Não me agradam muito os argentinos. São descendentes de italianos e pensam, em sua empáfia, que são ingleses. Chamam nossa seleção de futebol de macacos: “Que vienen los macaquitos”.

De repente surge um milagre. Um argentino é eleito Papa. Nosso susto é grande. Pensamos no pior. Como nos enganamos! Caiu-nos do céu um exemplo de humildade, de misericórdia, o Papa Francisco. Lava os pés dos mendigos. Beija os negrinhos lá na África. Abraça os pobrezinhos pelas ruas. Veste-se com simplicidade. Jogou fora a coroa da pompa. Agradecemos a Deus o presente.

(*) Padre Prata

 

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