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Enfim, dia 17!

Chegou ao fim a gestão de Rodrigo Janot como procurador-geral da República, hoje, dia 17 de setembro...

Márcia Moreno Campos
Publicado em 17/09/2017 às 01:00Atualizado em 16/12/2022 às 10:27
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Chegou ao fim a gestão de Rodrigo Janot como procurador-geral da República, hoje, dia 17 de setembro. Competente, polêmico, vaidoso e afeito aos holofotes, passou por períodos intensos de denúncias, delações, acordos e entrevistas. Sua atuação se encerra com duas denúncias ao presidente da República em exercício, uma das quais já barrada pela Câmara dos Deputados. Em contrapartida, para obter essa primeira denúncia, Janot acertou um acordo de delação premiada de pai para filho, concedendo imunidade aos delatores, criminosos confessos e contumazes. Quando tudo parecia se acalmar e o país vivia a expectativa de uma nova denúncia contra o presidente, ameaça velada do procurador, eis que ele coloca todo o seu time para trabalhar no fim de semana e descobrir novas provas em gravações entregues pelos delatores. Mas o tiro saiu pela culatra. O que se ouviu foi um diálogo torpe entre os colaboradores, envolvendo um ex-procurador, autoridades judiciárias e o próprio procurador-geral, que não teve opção, a não ser levá-lo a público em mais uma entrevista coletiva, como é do seu agrado. Dias depois, e às vésperas de uma operação de busca e apreensão nas casas dos delatores, o mesmo procurador-geral se encontra em um boteco com o advogado dos indiciados, de forma casual e para falar de amenidades, segundo ele.

Esses os fatos. Dou minha opinião. Sonho com o dia em que os chefes de instituições no Brasil se recolham ao anonimato e façam valer os ditames da instituição como regra de conduta. Sempre fui contra a mudança de rumo quando postos de comandos são trocados. O que se espera de uma substituição é que prevaleçam os princípios básicos de impessoalidade, probidade e bom senso. Quando pessoas sobressaem às instituições, saímos enfraquecidos. Antes desse lamaçal de corrupção que tomou conta do país, tínhamos uma imagem do Supremo como órgão sem face, sério, impositivo e, portanto, digno da mais alta credibilidade. Hoje, conhecemos cada um dos ministros, suas posições, ideologias, e até antecipamos os seus votos. Com isso, humanizamos os órgãos que nos julgam, acusam e absolvem. E atribuímos a eles todas as imperfeições dos seres humanos. Assim, vem a descrença. Desejo sucesso à nova procuradora-geral da República que assume o cargo amanhã. Mas, principalmente, que pouco saibamos dela. Somente instituições sem rosto garantem o progresso, a confiança e a solidez de uma democracia.

(*) Marcia Moreno Campos

 

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