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Falando de Tecnociências e Tecnologias

Tecnociências, meios ou fins? Essa indagação implica profundas reflexões, que falam do que somos...

Sandra de Sousa Batista Abud
Publicado em 14/09/2017 às 20:37Atualizado em 16/12/2022 às 10:32
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Tecnociências, meios ou fins? Essa indagação implica profundas reflexões, que falam do que somos, o que construímos, o que cultuamos e valorizamos socialmente. Falam sobre o modo como concebemos o mundo, como vamos nos estruturando tecnicamente nele, instrumentalizando, decifrando, controlando, reproduzindo e explorando tudo que existe, como a vida e a natureza.

Considerando tecnociências e sociedades, como percebemos a natureza? Se, na época medieval, a percepção da natureza estava ligada ao sagrado, à mitificação, como sabemos ser verdade nas mais diversas culturas e épocas pesquisadas da história humana, já nas Eras Moderna e Pós-moderna há uma profunda modificação dessa percepção, e a natureza passa a ser vista como um simples objeto a ser explorado, decifrado e controlado, isto é, há um trágico esvaziamento simbólico de natureza e vida, e o natural torna-se, assim, trivial, vulgar e explorável, diante das forças tecnocientíficas em franca ascensão. Trata-se de uma transformação profunda na forma como percebemos a própria realidade que nos circunda, reflexo claro daquilo que de fato somos em termos de cultura e civilização. A natureza, nesse contexto, passa a ser vista “como objeto a ser dissecado, explicado e, quando possível e desejável, modificado com base nos interesses maiores da humanidade”.

Técnicas e tecnologias fogem do controle humano e passam a determinar muito mais do que a forma como fazemos as coisas, a ponto de influenciar aquilo que de fato somos.

Não podemos mais imaginar uma Ciência pura, neutra, imparcial e até mesmo superior, em que cientistas e pesquisadores perseguiriam unicamente a “verdade”, o conhecimento “puro”, alheio aos interesses e influências. A industrialização de bens e produtos, em larga escala, processo altamente tecnologizado e extremamente degradante do ponto de vista ecoambiental, oriunda dos desenvolvimentos tecnocientíficos relativamente recentes, trouxeram-nos também, além dos benefícios, problemas e crises, como poluição, devastação ambiental, alimentos e seres transgênicos, clonados, lixo tóxico, radioativo, armas, guerras, desigualdades sociais extremadas. Essas são algumas consequências negativas de nossas tecnologias.

Um exemplo dramático de descontrole tecnológico foi o terrível genocídio das bombas atômicas deflagradas em Hiroshima e Nagasaki, durante a Segunda Guerra Mundial. Com a sua contradição intrínseca, ou seja, o descontrole sobre si, as tecnologias mostram-se incapazes de proteger o homem de si mesmo, e a natureza, do homem. Ambos, homem e natureza, necessitam de proteção devido à magnitude do poder que se atingiu ao se buscar o progresso técnico, cujo crescimento e caráter destrutivo ameaçam o homem e sua obra. 

(*) Psicóloga clínica

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