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Justiça limitada

Mata, prende, solta, prende, julga, prende, solta, prende e, se a banda sadia da sociedade tiver muita sorte...

Gustavo Hoffay
Publicado em 07/09/2017 às 20:28Atualizado em 16/12/2022 às 10:41
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Mata, prende, solta, prende, julga, prende, solta, prende e, se a banda sadia da sociedade tiver muita sorte, prende-se novamente e o sentenciado irá cumprir uma pena que lhe dará o direito de gozar uma série de benefícios. Mandados de prisão são cumpridos de maneira rigorosa e eficiente após investigações de incansáveis agentes policiais que, também nessas missões e muitas vezes espinhosas, costumam colocar a sua própria vida em risco. Mas a Justiça, além de comprovadamente morosa e não poucas vezes ineficiente em função das leis que são criadas e aprovadas pelos legisladores federais, já é apontada como a principal responsável pelo aumento, em grande escala, de crimes diversos; risonhamente desprezada pelos criminosos, amargamente afável para as vítimas e tida escandalosamente complacente pela sociedade em geral. Restaria a nós a aceitação de ter que conviver com uma situação que sufoca e que, quando não é letal, causa uma série de outros grandes prejuízos e tragédias pessoais? Quando será que os ilustres parlamentares federais encontrarão algum tempo para que seja agendada uma reunião onde intercedam a favor da aplicação da justiça e, dessa maneira, comecem a tomar medidas que nos aliviem ao menos um pouco ante a brutal escalada da criminalidade? Que dínamo falta a eles para proferirem o desejo de mudar o nosso complacente e modesto código penal? Pessoalmente acredito que a maioria dos deputados e senadores somente será tocada pelas aflições populares naquele sentido, quando perderem os seus respectivos mandatos e tornarem à condição de cidadãos comuns e vulneráveis. Continuarei, sim, insistindo na esperança de que um dia sejam agraciados com um mínimo de dignidade e pretensiosamente voltada aos interesses comunitários de quem conduziu-os a um assento e a um gabinete no Congresso Nacional, garantindo-lhes por alguns anos uma vida nababesca e voltada para afazeres escassos em vista da importância de que se reveste as suas funções, duas ou três vezes por semana. Se continuarmos covardes e resignadamente calados a esse respeito, a criminalidade continuará lembrando-nos que a realidade vivida por todos nós é intrínseca ao descaso e à lassidão da maioria dos congressistas. O mistério que envolve a neutralidade daquela classe de brasileiros assusta-me, principalmente naquilo que toca a ações que deveriam exprimir a sua posição diante de um assunto que já há muito constitui-se em uma das principais inquietudes do povo brasileiro; algo quase que comumente congênito em cada um de nós. Atrevo-me a dizer que somente uma deformação de personalidade ou a total falta de interesse pela vida humana pode distorcer o sentimento de autoridades que, espera-se, tenham a capacidade de assumir-se como tais e constituírem uma frente parlamentar para, por meio de leis, dignarem-se a colocar um freio na tresloucada expansão da criminalidade.

(*) Agente social

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