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Tempo

Dizia Barão de Itararé que a porta do banheiro estabelece bem a diferença de sensação de um minuto...

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 05/09/2017 às 19:39Atualizado em 16/12/2022 às 10:44
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Dizia Barão de Itararé que a porta do banheiro estabelece bem a diferença de sensação de um minuto. O tempo é em boa medida a medida do sofrimento, da dificuldade, da tristeza, da dor. É escala dos nossos revezes. Quando estamos vivendo algo que nos deixa extremamente satisfeitos, alegres, felizes, não sabemos mensurar e nem sentir o tempo. O tempo da agonia é bem mais duradouro que o da alegria, muito embora as duas situações possamos vivenciá-las em idêntico intervalo de horas. O contratempo é, na verdade, a interrupção da não sensação de tempo. Ele, contratempo, é o fator que determina a virada de humor e, consequentemente, ao tempo indesejado. Tempos de guerra são anos dobrados, tanto para quem morre nela ou para quem sobrevive. Justamente são esses estados da alma e do corpo que relativizam o tempo e a sua duração. Para a Terra e o sistema solar há uma indiferença absoluta, porque cumprem suas trajetórias e voltas quais relógios suíços, com a frieza metódica que se espera desse magnífico instrumento. É como a ampulheta, cujos grãos de areia são os mesmos acondicionados em seu recipiente, cumprindo a tarefa inconsciente e constante de preencher ora um vazio, ora outro pelo orifício regulador da cronometragem. Para esses e outros tantos aparelhos e objetos quantificadores do tempo, nada muda; é a rotina ininterrupta de nos oferecer a medida exata do tempo. E é exatamente aí onde entra a relatividade, não de Einstein e seus buracos negros, mas a nossa de simples mortais que fragmentamos o tempo e damos a ele duas ou mais medidas para o mesmo tamanho. Assim como não se dimensiona e interpreta a capacidade de cada um se sentir feliz, amado, amar, desgostar, alegrar, alegrar-se, não é possível sabermos o valor do tempo dos outros. O tempo é o mesmo, porém é único para cada um. Por isso é ousado, porém corajoso, dizer que o indivíduo é uma dimensão e, nesse sentido, os seres humanos são intensas e infinitas trocas de dimensões sem se aperceberem, porque são movidos pela sensação de tempo e espaço individuais. Somos bem mais que três dimensões. Afortunados são os que sabem bem a sua dimensão, porque sabem o tanto que tudo é efêmero e fugaz, principalmente os tempos de glória. 

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