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Mamoneira

Conforme a sabedoria popular de conversas amenas, quem planta colhe...

Mário Salvador
Publicado em 22/08/2017 às 20:09Atualizado em 16/12/2022 às 11:04
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Conforme a sabedoria popular de conversas amenas, “quem planta colhe”. E, mesmo em uma boa plantação, colhem-se ervas daninhas, que nem foram plantadas. E se a opção de plantio for pelo pior, valerá o ditad “quem semeia vento colhe tempestade”. Assim é que escolhas feitas na vida por adotar atitudes menos favoráveis podem levar a dificuldades, pois “cada um colhe o que planta”.

Ah! As plantas! Estejam no jardim ou quintal, gosto muito de lidar com elas. Com elas tenho convívio diário e amigável. Um clerodendro num caramanchão exibe-se mais por suas flores bem vermelhas, em lindos cachos, do que pelas folhas verdes. Um generoso pé de camélia branca e outro de camélia rosa disputam entre si o título de produtor da flor mais perfeita. O pé de incenso, todo coberto de perfumadas flores brancas, é uma noiva no altar. O hibisco se enche de vistosas flores amarelas. E minha milagrosa jabuticabeira já está na terceira floração do ano, anunciando boa safra de jabuticabas tentadoras.

No jardim, o manacá-da-serra encanta transeuntes que se dirigem ao supermercado para fazer suas compras ou à pizzaria a fim de saborear ótimos pratos. Se o comércio apresenta seus produtos diversos que tomam os olhos e sua comida deliciosa que enche também o olfato e o paladar, meu manacá vai espalhando beleza aos caminhantes e motoristas, neste trecho de rua que enche os sentidos.

Mas muitas plantinhas que brotam em meu quintal não apareceram ali pelas minhas mãos: são as pequenas pragas que vou tentando exterminar aos poucos. Assim é que, não há muito tempo, observei uma mudinha corajosa que despontava num dos meus canteiros. Acompanhei curioso o seu desenvolvimento. Cresceu num rompante. Agora a planta já reina no quintal. Trata-se de uma portentosa mamoneira.

A mamoneira me surpreendeu pelas folhas enormes. São quase cinco palmos de diâmetro. Quando novinhas, são verde-musgo. Depois o primeiro cacho de mamonas despontou gigante. Verde como as folhas da planta, e com uma flor miudinha acintosamente vermelha. Já os talos da planta são de um rosa singular. Não fosse o porte desta mamoneira, ela seria como as outras que povoaram minha infância. Elas que forneciam balas para a arma letal que usávamos com frequência: o estilingue. Outras crianças preferiam usar o talo oco da mamoneira para fazer bolhas de sabão. A mamoneira era nossa loja de brinquedos...

Eu até poderia desfazer-me da mamoneira intrusa do meu quintal, porém eu prefiro contemplá-la enquanto me deleito com as reminiscências que essa plantinha evoca. Apesar de a mamoneira ser extirpada em outros quintais e terrenos, no meu ela é primeira e única; um presente da natureza que vem acompanhado do regalo das boas lembranças.

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