Nossas angústias

Um homem à beira do desespero seguia por uma estrada tentando aguentar a carga dos seus problemas. A dor pelo que sentia o dilacerava, e olha que ele não estava a pé, e sim num belo utilitário importado. Com certeza, a velocidade daquele veículo não era a permitida por lei, pois, ao passar pelos outros, via-se apenas um risco seguido de um zummmmmm! Ouvi esta história pra contar aqui.

Dentro daquele peito abafado batia um coração com taquicardia cujo dono era “poderoso”, mas naquele momento o seu drama era tão grande que fazia sua respiração quase faltar. Todo problema é assim: não há energia que lhe baste...

Com os olhos fixos no horizonte, aquele homem só visualizava o pessimismo, mas sem perder a esperança de que um alívio viria de algum lugar para diminuir a sua sobrecarga. E veio, como veremos.

À sua frente seguia uma motocicleta, também correndo a mais de 100 quilômetros por hora. Do corpo do condutor voa um objeto que, pelo tamanho e forma, pareceu tratar-se de uma carteira. Desacelerando aquele importado com tração nas quatro rodas até pará-lo, o angustiado motorista desceu e viu que era uma carteira com o fecho rompido. Havia documentos e vários papéis esparramados na pista. Num deles, um e-mail recente com as inscrições: “MANO, NOSSA MÃE FALECEU NO HOSPITAL. O ENTERRO SERÁ AMANHÃ, ÀS 14H”.

Ato contínuo, a Polícia Rodoviária Federal, que também estava à frente, foi contatada pelo solidário motorista para interceptar o motoqueiro. Com velocidade regular, o blindado utilitário prosseguiu até o seu condutor encontrar-se com o dono dos documentos perdidos. Estabeleceu-se ali um afetivo diálogo.

A angústia do poderoso motorista foi ao chão quando viu que a sua dor era só por coisas materiais e o motoqueiro chorava pelo seu tesouro insubstituível, sua querida mãe. Uma carona levou os dois e o episódio selou a lição de que: nossas angústias cedem às boas oportunidades.