A vida anda tão corrida que a impressão que dá é que as pessoas têm um mecanismo de aceleração implantado no corpo, na cabeça ou nos pés. Tal geringonça não serviria para controlar a velocidade máxima, mas para controlar a mínima e ditar o ritm “Corra!”, “Mais rápido!”, “Produza mais!”. Muitos já começam o dia no compasso mais ligeiro, outros, ao final do expediente, têm a sensação de que correram exageradamente, sem sair do lugar. Estranho, muito estranho.
Alguns já perceberam isso, estão conscientes do problema e tentam desacelerar, mas não é fácil! Máquinas cada vez mais astutas induzem e estimulam a correria. Mesmo aquelas que, em tese, deveriam fazer as pessoas diminuírem a velocidade, colaboram para seu aumento. É o caso dos radares de controle do trânsito, as chamadas “lombadas eletrônicas”, em que se observa, no espaço entre dois aparelhos instalados, um acréscimo considerável da aceleração. Dá pena ver os mais velhos e os que cumprem a lei serem considerados “bobos”, lentos, os que atrapalham o trânsito, quando na verdade estão obedecendo às determinações legais, ainda que estas sejam, em alguns casos, inconsistentes.
Tem, também, a proliferação dos fast food. Ora, comer de pé, comer depressa, provoca azia, mal-estar e não é possível apreciar o sabor dos alimentos, seria melhor comer ração balanceada e alfafa, não acham?
E tem aquela coisa toda contra o “textão”, que é a recusa e a condenação à leitura e à escrita de textos longos. O que alguns críticos moderninhos argumentam é que quanto menor o texto, mais rápido você vai ler. E se a rapidez na leitura levar à confusão do raciocínio? Será uma aposta na permanência da superficialidade.
O que se quer impor é: “Não perca seu tempo! Seja mais esperto do que seu colega do lado, mais competente, mais eficaz, mais competitivo... Não pense!”. Hein?
A tão almejada eficiência impele as pessoas à remoção de obstáculos. O problema está em definir o que é um obstáculo e qual remover. Árvores, por exemplo! Tem gente que acha que esses seres tão complexos e bonitos são estorvos, causam problemas. Basta observar a quantidade de carros que batem nelas. Sinal de que “elas” estavam no lugar errado, no meio da trajetória entre um possante veículo e o objetivo, agora inalcançável, do motorista. É simples: basta retirá-las do caminho! Diminuir a velocidade? Nem pensar! E a perda de tempo que representa varrer as folhas que caem? Daqui a pouco, serão plantadas apenas espécies cujas folhas não caem, transgênicas, sem folhas, sem sombra, assim, ninguém perderá tempo juntando folhas secas.
Pois é, se não se alterarem as atitudes e as concepções frente à correria e ao consumismo, será muito desagradável viver num mundo em que não teremos a possibilidade de usar o próprio tempo para descansar debaixo de uma gostosa árvore frondosa e ler uma crônica! Não é?
