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Expedição à Patagônia II – As Tolderias

O ritual indígena de recepção aos visitantes ainda continha uma segunda parte...

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 02/08/2017 às 18:49Atualizado em 16/12/2022 às 11:33
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O ritual indígena de recepção aos visitantes ainda continha uma segunda parte. Depois da estonteante cavalgada, a toda velocidade, ao redor deles, o grupo originário de cem se subdividiu em dez menores, que continuaram o mesmo movimento. A uma indicação de Utrac, o perito Moreno compreendeu que eles também deveriam cavalgar em círculo, imitando-os. Como os expedicionários engenheiros não se distinguiam como cavaleiros, o desempenho não respondeu às expectativas dos anfitriões. Assim, Francisco Moreno realizou uma parada em duas patas, saiu em disparada, freando de um golpe e desmontand o silêncio do grupo indígena indicou a aprovação da sua habilidade. Então, Utrac deu início às apresentações individuais dos guerreiros, aos quais Moreno deveria apertar a mão e repetir o impronunciável nome de cada um, só depois foram encaminhados à tenda do Cacique Inacayal.

Conversaram amigavelmente, tendo Utrac como intérprete. À pergunta sobre os motivos de sua viagem, Moreno falou primeiramente que estava ali para rever Utrac, de quem se tornara amigo na última expedição; ao mesmo tempo informou também que o Governo Argentino havia encomendado mapas da região. A explicação dada de que era um desenho detalhado da região onde ele marcaria os lugares onde encontrasse algum osso ou pedras desagradou visivelmente o Cacique e foi acompanhado da notícia de que iria convocar o Cacique Foyel para um parlamento e só depois daria uma resposta. Enquanto isso eles deveriam permanecer na aldeia.

O protocolo era rígido e as mesmas gritarias e corridas aconteceram com a chegada do outro grupo comandado pelo Cacique Foyel. Quando o parlamento se instalou sobre as peles que cobriam o chão, as falas de Inacayal e Foyel seguiram o mesmo roteiro de cumprimentos, elogios e queixas ao Governo Argentino. A fala de Moreno seguiu o modelo indígena, iniciando com os agradecimentos pela acolhida amistosa, elogiando a valentia e lealdade destes grupos, bem como as saudações do Governo argentino, para só então falar sobre os mapas que deveria levar a Buenos Aires. O Cacique Foyel perguntou para onde se dirigiria a expedição depois das terras dos tehuelche? A resposta dada de que iriam até as terras mapuche de Shaihueque provocou reação negativa imediata a partir da questão de que eles estavam em guerra com os huincas. Se a expedição seguisse até as terras mapuche, eles saberiam que ela partira de tehuelche e os primeiros concluiriam que os tehuelches eram seus inimigos, já que amigos dos huincas, e como estes estavam guerreando com os mapuches, estes acabariam estendendo a guerra aos primeiros, que poderia se transformar em guerra tribal. Esclareceram também que com os mapuches está um mapuche/chileno chamado Loncochino, que defende os interesses chilenos pelas terras da patagônia com a ajuda dos povos originários andinos. 

(*) Psicóloga e psicanalista

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