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Dor

A dor mais triste no mundo, /A dor que ninguém consola/ É a da mãe desvalida/...

Mário Salvador
Publicado em 18/07/2017 às 19:31Atualizado em 16/12/2022 às 11:57
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“A dor mais triste no mundo, /A dor que ninguém consola/ É a da mãe desvalida/ Com o filho pedindo esmola.” Quando decorei essa trova, na época do meu curso primário, não se ouviam notícias de balas perdidas voando pelos ares e acertando crianças nos bancos escolares ou nas quadras das escolas, ou atingindo um bebê ainda no útero da mãe.

No Rio de Janeiro, uma bala perdida atingiu a barriga de uma mulher grávida. O fato se deu durante um tiroteio envolvendo policiais e traficantes. A bala perfurou a bacia da mãe, penetrou no tórax do bebê que ela carregava no útero havia 39 semanas. A mãe passou por uma cesariana de emergência e deu à luz o pequeno Arthur.

Arthur ainda luta por sua sobrevivência. E a bala que o atingiu provocou lesões que podem torná-lo paraplégico. Arthur se transformou no símbolo da violência no Rio de Janeiro. Não se pode dizer que a dor de uma mãe é maior ou menor que a de outra mãe: na verdade, cada mulher chora e luta e se desdobra especialmente por seu filho.

E na Inglaterra, em ação movida por um hospital, a Suprema Corte decidiu que sejam desligados os aparelhos que mantêm viva uma criança criticamente doente. O caso ganhou repercussão mundial e gerou um debate sobre ética médica.

Os pais obtiveram cinco milhões de reais em uma campanha para arrecadar fundos a fim de conseguirem levar o filho para os Estados Unidos, na tentativa de mantê-lo vivo. Apesar disso, os médicos não liberam a criança. O papa Francisco colocou o hospital infantil do Vaticano à disposição da família e afirmou: “Defender a vida humana é dever de amor que Deus confia a todos nós”. E Donald Trump, poderoso chefe de Estado, publicou na internet: “Se pudermos ajudar o pequeno Charlie Gard, ficaremos lisonjeados”. Mas os médicos britânicos argumentam que prolongar a vida de Charlie artificialmente só tem trazido sofrimento, sobretudo ao garoto. Os pais de Charlie também vivem uma intensa dor por não conseguirem fazer mais pelo filho.

Nosso sentimento de impotência diante da dor alheia, especialmente se o outro for um filho, leva-nos a uma reflexão profunda a respeito de nossa missão no mundo. Vivemos para servir. Se não podemos resolver o problema de nosso próximo, que ao menos tentemos mitigar-lhe a dor e amparar aqueles que lhe dão suporte, para tornar-lhes menos difícil a caminhada.

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