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Googlecéfalo

Hoje é tão simples qualquer acesso à informação, que de longe não ficamos desinformados...

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 11/07/2017 às 18:54Atualizado em 16/12/2022 às 12:06
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Hoje é tão simples qualquer acesso à informação, que de longe não ficamos desinformados do que acontece no Mundo. Como processar toda gama de infindos contatos, apps e tantos que tais que nem mesmo arrisco a enumerar por reconhecida ineficiência de conhecimento? O desafio constante da não abstração. Está-se a cada dia esvaindo-se o abstracionismo, tendo em vista a imperial necessidade de ininterrupta conexão. Não há nada mais eficaz para o transtorno de déficit de atenção que a não conexão. Não se concentra mais sem se estar conectado e, consequentemente, apartado de tudo que não está on-line. A vida off-line acontece na hora do sono, que já não se sabe perturbado por constantes sinapses reflexivas da compulsão conectiva da internet. Já se pode pensar em terceirização do cérebro para o mundo da web. Não há necessidade de reserva de memória em nossa mente, ela toda está arquivada e armazenada, por exemplo, no Google, nossa cabeça informante, que foi deslocada para as nuvens virtuais. Essa transferência quase inconsciente e automática, para muitos, representa um ganho, porque nossas ocupações do ponto de vista cognitivo estarão mais libertas de esforços relativos à memorização. A mnemônica passa a ser a simples memorização de senhas que permitem acesso ao cérebro virtual e alheio ao nosso corpo. A tabela periódica que há tempo já parece não ser exigida de cabo a rabo é um exemplo de esvaziamento de gigas cerebrais dando espaço para outros arquivos que provavelmente são gravados com prazo de validade e esgotamento de lembrança. Estamos na era da não fixação. O repositório de todas as informações necessárias está disponível a todo instante. Não há com que se preocupar, nem mesmo se ocupar. Já se ocuparam por nós e, também, pensaram por nós, o que pode ser o revés civilizatório de nossa evolução. Deixar de pensar, de abstrair é deixar de existir a parte diferenciadora de nossa espécie em relação às demais. É quase igualar-se às outras tantas. Precisamos saber agir com essa irreversibilidade e tomarmos a rédea do fantástico mundo tecnológico que facilita, amplia e maravilha nossas vidas, entendendo que somos seres pensantes que conquistamos há duras e milenares décadas a capacidade só nossa de abstração. Um “googlecéfalo” não pode ser um bucéfalo, e sim uma mente brilhante. 

(*) Engenheiro

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