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Burum, Roxinho e Cabrito

Na fazenda, os três irmãos podiam passear a cavalo à vontade, se não tivessem deixado nenhuma...

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 02/07/2017 às 12:16Atualizado em 16/12/2022 às 12:18
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Na fazenda, os três irmãos podiam passear a cavalo à vontade, se não tivessem deixado nenhuma obrigação para trás. Obrigação, neste caso, significava tomar o café da manhã, escovar os dentes e arrumar o quarto bagunçado. Outra coisa importante era verificar com o Bastiãozinho se os cavalos não seriam necessários em algum serviço naquele dia.

Desde que estivesse tudo certo, estariam liberados para andar por onde bem quisessem. Teriam, entretanto, de fazer tudo por sua própria conta e sabendo que, da mesma forma que saíssem, teriam de voltar, ou seja, nada de pedir ajuda nem atrapalhar ninguém, muito menos deixar para os outros a responsabilidade que era deles, incluindo buscar os cavalos no piquete, escovar, arrear, dar água, desarrear, lavar e soltar no mesmo lugar em que os encontraram. As regras eram claras.

Se os três pudessem alcançar suas expectativas mais modestas, chegariam à Lua nas três montarias e estariam prontos para cavalgar ao lado de São Jorge antes do almoço. Mas a recomendação, expressa e rigorosa, era não forçar os animais, pois eram os mais velhos da tropa da fazenda do avô. Um deles já estava quase aposentado, o Cabrito. Quando novo, justificando o nome, ele deve ter dado uns bons pulos e, talvez, tenha derrubado muitos peões valentes. O avô dizia que era o seu predileto, mas agora ele tinha arranjado um alazão mais resistente, no entanto nunca deixou de lhe trazer uma espiga de milho. Isso era motivo de orgulho para o irmão do mei montar o cavalo que tinha sido do avô.

O irmão mais novo montava o Burum. Não foi fácil entender esse nome diferente. Isso era nome de cavalo? Um cavalo tão calmo que quando os irmãos queriam caracterizar alguém muito lerdo eles o chamavam, entre eles, de Burum. Sem pressa alguma, o pobre cavalo ficava sempre por último nos passeios. Às vezes, o irmão perdia a paciência, desmontava e puxava o animal pelo cabresto. Nessas ocasiões ele dizia que o Burum era um burro.

O terceiro chamava-se Roxinho, ainda ativo na lida com o gado, cavalo esperto, por isso destinado ao mais velho dos irmãos.

Agora, os três cavalos estavam destacados para acompanhar os netos. Eram tão mansos que não derrubavam nem as moscas que vinham lhes incomodar as orelhas. E nada de esporas, maus-tratos e muito menos deixa-los longos períodos sem água. Aliás, isso passava longe das suas atitudes e concepções sobre os animais. Pra eles, os cavalos eram uma espécie de gente, gente boa, por sinal. Conversavam com eles, soltavam as rédeas e deixavam que seguissem por onde bem entendessem. Curiosamente, mas nem tanto, era fazer isso e eles tomavam o rumo do curral. Sabiam “de cor e salteado” o caminho de volta. Como dizia o irmão mais nov o Burum podia ser burro, mas não era nada bobo.

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