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Via de regra, entrevistadores e entrevistados, em programas de televisão, conversam...

Mário Salvador
Publicado em 06/06/2017 às 22:01Atualizado em 16/12/2022 às 12:51
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Via de regra, entrevistadores e entrevistados, em programas de televisão, conversam com desenvoltura. Entretanto, há quem, ao perguntar ou responder, use estereótipos de apoio no começo, meio ou fim de toda frase, como estes: “veja bem”, “então”, “olha”, “vem cá”, “escuta aqui”, “pois é”, “aí”, “daí”, “tá?”, “né?”, “entendeu?”, “compreende?”. E há quem use o prolongamento, ou seja, estende uma vogal a fim de preencher o vazio entre duas frases numa conversa, enquanto pensa o que vai dizer em seguida. Em geral, é um “ãããh” ou “ééééh”.

Todo falante da língua está sujeito a cair nessas armadilhas da linguagem, principalmente se a conversa é informal. Mesmo pessoas cultas, que dominam bem algum assunto, em alguma ocasião adotam essas muletas, que acabam fazendo reduzir a credibilidade de quem as ouve.

Tanto os estereótipos de apoio quanto os prolongamentos são muletas exclusivas da comunicação oral, ou seja, de conversas, palestras, aulas, negociação de produtos ou serviço... Se a expressão é usada uma vez ou outra, não há problema. O excesso é que é estereótipo e que cansa o ouvinte.

Convivi com um “cá entre nós” por anos, usado por um amigo que, confiante em mim, queria que a conversa não fosse passada adiante. Mas usava a expressão sempre, mesmo se não fosse o caso de o assunto ficar entre nós.

Embora alguns ouvintes nem percebam essa particularidade, para outros, ela se torna o foco da atenção, a ponto de esse ouvinte se dedicar apenas a contar os estereótipos e prolongamentos em vez de prestar atenção no assunto da conversa. E, se a mensagem não é entendida, há uma falha na comunicação.

Esses estereótipos não constituem erros; são apenas inadequados ou até insuportáveis, conforme a circunstância. Contudo, há formas de evitá-los, o que proporcionará maior qualidade na comunicação. Por exempl Ouvintes, como os amigos, familiares e alunos, podem ajudar a detectar essas muletas na fala de outras pessoas. Ou o próprio interessado pode fazê-lo, escutando atentamente um áudio da própria aula, palestra ou conversa. Falar com cuidado, prestando atenção ao assunto, também ajuda na fluência da comunicação oral. E uma observação pode assustar quem insiste em tornar o estereótipo sua marca registrada: mesmo que os ouvintes não percebam, eles formam, mentalmente, uma imagem de quem fala, pois quem se comunica se expõe.

Para muitos, a mania se restringe à linguagem oral. Pior é quando o interlocutor adota cacoetes, como dar cutucão no outro, a cada frase dita. Nesse caso, para não sair da conversa com o corpo todo roxo, é melhor manter uma distância segura enquanto durar a conversa. É inverossímil explicar que alguém ficou todo roxo porque esteve conversando. Até parece conversa para boi dormir.

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