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As histórias da minha avó

Como toda criança de antigamente, eu adorava as histórias contadas por minha avó...

Márcia Moreno Campos
Publicado em 14/05/2017 às 12:35Atualizado em 16/12/2022 às 13:23
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Como toda criança de antigamente, eu adorava as histórias contadas por minha avó pouco antes de dormir. Mesmo que ela as repetisse, o que era frequente, eu ouvia com atenção e sempre queria mais. Hoje, consigo me lembrar de quase todas e vejo com clareza as lições que elas traziam em si. Minha avó contava muitos casos, como dizia ela, da época em que Jesus, acompanhado por São Pedro, andava pelo mundo. Segundo ela, um dia eles chegaram a uma fazenda e pediram pouso, já cansados de longa jornada. O dono da casa, um velho ranzinza, depois de muito resmungar, arrumou um quarto com uma única cama para os dois. Jesus no canto, São Pedro, na beirada, dormiam tranquilamente, quando o homem resolveu ir até lá e dar uma surra neles. Pegou o da beirada, desceu o reio e saiu. São Pedro, injuriado, pediu que Jesus trocasse de lugar com ele. Voltando ao quarto, o dono da casa pensou e resolveu dessa vez espancar o do canto. Sem saber, minha avó já se antecipava à lei de Murphy.

Outras das suas histórias, também sobre as andanças de Jesus e Pedro pelo mundo, é hoje para mim um sábio ensinamento. Passavam os dois andarilhos perto de um rio quando viram um homem se aproximando com sua boiada. Os bois entraram no rio e começaram a se afogar. O homem ficou na beirada rezando e gritando para que Nossa Senhora os salvasse. Todos morreram afogados. Veio então outro homem com sua boiada. Entraram os bois no rio e o homem foi junto, gritando, xingando, cutucando com a vara, se encharcando todo e a boiada saiu inteira do outro lado. São Pedro questionou: “Mestre, o que é isso? Um reza e perde tudo e o outro xinga e salva seus bois?”. Ao que Jesus respondeu: “Pedro, será que ele queria que minha mãe entrasse dentro do rio para salvar os bois dele? Eu ajudo a quem faz sua parte”.

As histórias contadas por nossos pais e avós, sem censura, sem o crivo do politicamente correto, ficaram na memória. Hoje, no afã de poupar crianças de preconceitos, criam-se limitações capazes de tolher a criatividade. Até os livros de Monteiro Lobato foram censurados. De qualquer forma, não se deve perder o hábito de contar histórias, lendas e fábulas aos filhos e netos, porque este é o melhor gosto da infância.

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