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Finanças da família

Adriana de Lourdes Ancelmo, presa por corrupção pela Lava Jato, em depoimento ao juiz...

Mário Salvador
Publicado em 09/05/2017 às 21:11Atualizado em 16/12/2022 às 13:30
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Adriana de Lourdes Ancelmo, presa por corrupção pela Lava Jato, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, garantiu ignorar a origem dos milhões de reais que recebeu do esposo, Sérgio Cabral (que também está preso), para comprar joias – compras que serviam para lavar dinheiro ganho com a corrupção.

O fato me remeteu a palestras que ministrei em Cursos de Noivos na Paróquia Santa Teresinha. Nelas, eu orientava futuros cônjuges no sentido de que a família conversasse amplamente sobre seus ganhos, fizesse orçamento detalhado, combinasse gastos, bem como formas de economizar, e revisse periodicamente sua planilha para manter as contas equilibradas. Os riscos em não se adotar essa ideia são muitos, dentre eles descobrir que algum membro da família fez gastos comprometedores, colocando todos em dificuldade, e, também, desconhecer a origem de algum ganho.

Aliás, talvez tenha sido mais proveitoso para Adriana Ancelmo o fato de ela ignorar a origem do dinheiro que recebeu do esposo, ou ao menos alegar isso, pois, se ela fosse honesta, como afirma, e descobrisse que o dinheiro era fruto de corrupção, provavelmente não aceitaria a forma de agir do esposo. E, no caso de ser supostamente desonesta, ela saberia do risco de ser presa.

Teoricamente, quem pretende constituir família sabe a importância de fazer sua reserva financeira crescer mês a mês. Com o dinheiro na mão (numa metáfora), é possível comprar à vista, por exemplo, material de construção, automóvel e eletrodomésticos por valor mais acessível do que ao se optar por prestações.

O jornalista Sebastião Nery conta que a Associação Comercial do Rio de Janeiro queixou-se a Juscelino pelo fato de seu ministro José Maria Alkmin (que acreditava que a prestação era o maior fator de inflação) lançar uma campanha contra o sistema de crediário, o que prejudicou o comércio. Alkmin se justificou: “Não sou contra a venda à prestação; sou contra a compra à prestação.”

A campanha de José Alkmin tem uma lógica para aqueles que pretendem se dar bem por muito tempo numa vida em comum. Mas não sejamos radicais. Em certos casos, comprar a prazo pode ser a melhor ou até a única forma de a família resolver determinada situação. É através do diálogo e do bom senso que cada família vai considerar as variáveis do problema.

Numa época sem redes sociais, dificilmente podíamos ter, a longo prazo, o sonhado retorno da eficiência de nossas palestras, que eram fruto tanto de estudo quanto de experiência, que, ao final, me garantiram cinquenta anos de um casamento muito feliz. Porém, recentemente, um casal participante do curso me surpreendeu, dizendo que levou a sério a ideia de fazer o orçamento doméstico, o que muito lhes facilitou administrar a vida financeira da família.

Hoje, tudo está mais fácil: há excelentes planilhas prontas em aplicativos, muitas formas de se comparar preço de produtos (que atendem a diferentes expectativas), além de diversas formas de se efetuar pagamento e de todo tipo de informação on-line gratuita. Só é bobo quem quer.

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