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Moço!

Foi há alguns dias. Uma senhora que eu ainda não conhecia me perguntou se eu sabia...

Mário Salvador
Publicado em 04/04/2017 às 18:56Atualizado em 16/12/2022 às 14:13
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Foi há alguns dias. Uma senhora que eu ainda não conhecia me perguntou se eu sabia onde ficava uma oficina mecânica: “Moço, o meu carro enguiçou. Sabe se existe alguma oficina mecânica por aqui?” Há uma oficina perto da minha casa e eu pude orientar aquela senhora.

O que me chamou a atenção foi o vocativo que ela empregou: “moço”, coisa rara hoje, mas bem comum em priscas eras. E é um tratamento cortês e uma forma delicada de tratar alguém como eu, tido como de provecta idade. (E bota provecta nisso!) Senti-me remoçado.

Sim. Já foi comum chamar um cidadão usando esse mesmo vocativo. Também era usado “senhor”. Para as mulheres, dizia-se “moça”, mas, em geral, predominava o respeitoso “senhora”. Prevalecia, então, muita reverência em toda a sociedade. As mulheres recebiam toda a atenção dos homens, que eram cavalheiros. Quando elas entravam em um recinto onde não havia mais cadeiras disponíveis para se sentarem, os homens cediam-lhes o lugar. Assim, elas tinham liberdade de escolher uma cadeira. E o homem cujo lugar era escolhido sentia-se lisonjeado. Embora isso hoje soe ultrapassado, ainda há quem o faça.

Já assistimos a reportagens mostrando que grávidas e idosos às vezes viajam de pé, em ônibus, enquanto jovens e homens ficam sentados. Alguns dos sentados até “dormem”. Felizmente isso não é usual. Também já foi regra de etiqueta os alunos ficarem respeitosamente de pé do momento em que professores ou funcionários da escola entravam em sala de aula, até quando diziam: “Podem-se sentar” - agradecidos pela cortesia.

Mesmo que as regras de etiqueta sejam outras e que as que se foram pareçam estranhas, tudo se resume no seguinte: pequenos gestos de cortesia ajudam a melhorar a vida alheia e, por tabela, a nossa. Quando, numa esquina, o motorista para o carro a fim de que o pedestre atravesse a rua, este fica agradecido pela atenção e retribui com alguma palavra, aceno ou um sorriso – inesquecíveis moedas de troca. Não nos custa fazermos tão pouco pelo próximo.

Acreditem, ainda me sinto envaidecido por aquele tratamento que recebi e que melhorou meu dia: “moço”. Afinal, francamente, é assim mesmo que eu me sinto, no corpo e na alma, graças a Deus, em minha oitava década de vida.

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