Foi há alguns dias. Uma senhora que eu ainda não conhecia me perguntou se eu sabia...
Foi há alguns dias. Uma senhora que eu ainda não conhecia me perguntou se eu sabia onde ficava uma oficina mecânica: “Moço, o meu carro enguiçou. Sabe se existe alguma oficina mecânica por aqui?” Há uma oficina perto da minha casa e eu pude orientar aquela senhora.
O que me chamou a atenção foi o vocativo que ela empregou: “moço”, coisa rara hoje, mas bem comum em priscas eras. E é um tratamento cortês e uma forma delicada de tratar alguém como eu, tido como de provecta idade. (E bota provecta nisso!) Senti-me remoçado.
Sim. Já foi comum chamar um cidadão usando esse mesmo vocativo. Também era usado “senhor”. Para as mulheres, dizia-se “moça”, mas, em geral, predominava o respeitoso “senhora”. Prevalecia, então, muita reverência em toda a sociedade. As mulheres recebiam toda a atenção dos homens, que eram cavalheiros. Quando elas entravam em um recinto onde não havia mais cadeiras disponíveis para se sentarem, os homens cediam-lhes o lugar. Assim, elas tinham liberdade de escolher uma cadeira. E o homem cujo lugar era escolhido sentia-se lisonjeado. Embora isso hoje soe ultrapassado, ainda há quem o faça.
Já assistimos a reportagens mostrando que grávidas e idosos às vezes viajam de pé, em ônibus, enquanto jovens e homens ficam sentados. Alguns dos sentados até “dormem”. Felizmente isso não é usual. Também já foi regra de etiqueta os alunos ficarem respeitosamente de pé do momento em que professores ou funcionários da escola entravam em sala de aula, até quando diziam: “Podem-se sentar” - agradecidos pela cortesia.
Mesmo que as regras de etiqueta sejam outras e que as que se foram pareçam estranhas, tudo se resume no seguinte: pequenos gestos de cortesia ajudam a melhorar a vida alheia e, por tabela, a nossa. Quando, numa esquina, o motorista para o carro a fim de que o pedestre atravesse a rua, este fica agradecido pela atenção e retribui com alguma palavra, aceno ou um sorriso – inesquecíveis moedas de troca. Não nos custa fazermos tão pouco pelo próximo.
Acreditem, ainda me sinto envaidecido por aquele tratamento que recebi e que melhorou meu dia: “moço”. Afinal, francamente, é assim mesmo que eu me sinto, no corpo e na alma, graças a Deus, em minha oitava década de vida.