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Transparência

Dizem que o melhor detergente é a luz do sol. Se a verdade puder ser mostrada, também...

Márcia Moreno Campos
Publicado em 02/04/2017 às 11:14Atualizado em 16/12/2022 às 14:15
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Dizem que o melhor detergente é a luz do sol. Se a verdade puder ser mostrada, também poderá ser julgada. Alheio a essa máxima, e em um país que ainda caminha vagarosamente para ser levado a sério, nosso glorioso Congresso Nacional articula uma mudança nas regras eleitorais, no que eles chamam de reforma política, para implantar a tal lista fechada, cujos candidatos são indicados pelos partidos sem a escolha prévia do eleitor, e o financiamento das campanhas passaria a ser exclusivamente com recursos públicos. A ideia é inchar o já existente Fundo Partidário para algo em torno de seis bilhões de reais, porque com as alterações anteriores que excluíram a doação de pessoas jurídicas, os recursos minguaram e se tornaram insuficientes para sustentar a parafernália toda de um processo eleitoral. Segundo eles, “o financiamento por pessoas físicas não dará condições nem ao candidato a presidente de alugar jatinho para percorrer o Brasil”. E como será que farão sem jatinhos, mordomias, cabos eleitorais, desperdício de dinheiro e sobras de campanha? A solução é simples, basta trocar o famoso caixa dois das empresas pelo caixa do povo, os bobos da corte, que financiarão com o dinheiro dos impostos esse vultoso fundo partidário. Não satisfeitos, porém, querem implantar a lista fechada, onde o eleitor vota no escuro, porque são os partidos que definem, a seu critério, quem serão os eleitos, os primeiros da fila.

A política não perde o gosto pelo oculto. Desde os tempos idos que as tramas intramuros derrubam reis e patrocinam assassinatos na calada da noite. Tudo à surdida, aos sussurros. Recentemente, ficamos sabendo através das delações que existe uma prática comum chamada de barriga de aluguel, em que empresas emprestam seu nome para esquentar doações de propinas de outras. Junte-se ao voto secreto para aprovar projetos de interesse do país, à sonegação de informações e à lista fechada, e teremos o atalho certo para encobrir os rastros da corrupção. As demandas dos representados têm que ser ouvidas em detrimento dos interesses dos representantes.

Em 2011 surgiu a Lei da Transparência – Lei 12.527, que subordina os órgãos públicos integrantes da administração direta dos Poderes Executivo e Legislativo a prestarem conta dos seus atos. Como em tudo o mais no Brasil, a lei não está sendo cumprida à risca pelos dois Poderes, o que tem dado muito trabalho ao Ministério Público.

É preciso deixar a luz do sol entrar. Transparência é a palavra-chave. O julgamento cabe ao povo. Urge derrubar essa preferência dos políticos pelas práticas ocultas.

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