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Da absoluta diferença à impossível igualdade

Nas conversas descontraídas entre amigos, a recorrência dos temas sobre a questão do gênero e da violência...

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 15/03/2017 às 07:56Atualizado em 16/12/2022 às 14:33
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Nas conversas descontraídas entre amigos, a recorrência dos temas sobre a questão do gênero e da violência nos dias atuais comprova o interesse e a busca de compreensão destas características nos nossos dias. Sempre encontramos pessoas que ficam chocadas com comentários ouvidos ou ocorrências na vida das pessoas conhecidas. Há pouco, num bate-papo descontraído, uma das envolvidas na roda demonstrou surpresa com a fala de uma jovem ao afirmar, com incrível segurança, a opinião de que a diferença entre homem e mulher tende a desaparecer futuramente!

Depois que demonstramos a presença do conceito de “gênero” nesta afirmativa surpreendente passamos a reflexão para o campo do diferente x igual. A diferença entre homem e mulher se sustenta no biológico e na informação dada pelo próprio sentido da visã o corpo masculino é diferente do corpo feminino e tem na manutenção da espécie funções diferentes e complementares. No entanto, a igualdade não está ausente uma vez que o fisiológico e o estrutural obedecem aos mesmos princípios e assim abrimos a discussão para a questão do semelhante que retomaremos a seguir, depois de focar nossa atenção ainda sobre a diferença x igualdade. Se o corpo físico sustenta facilmente e, inegavelmente, a ideia do diferente, é preciso possuir o mais profundo conhecimento das leis que regem a formação da subjetividade que se manifesta numa identidade pessoal para afirmar que existe uma diferença entre o homem e a mulher em outros campos como o intelectual e o moral e mais ainda qual é esta diferença.

Sabemos que cada um de nós também vive fantasia intensa e prazerosa em torno da individualidade: sou único, portanto diferente de todos os outros. Esta fantasia se mantém por um bom tempo e só tardiamente é questionada. Queremos ter identidade própria e nome próprio como também sermos reconhecidos socialmente por eles. Vale ressaltar que a diferença se assenta no sexual, e a importância crescente deste último no momento cultural de uma geração que tende a designar à igualdade valor considerável abre a questão do incógnito que confirma sua essencialidade na sua ausência. Assim quanto mais se valoriza a igualdade mais se confirma a diferença na busca vertiginosa do sexual.

Arrebentar a cadeia de condicionamentos que se vai transmitindo quase intacta de uma geração para outra não é tarefa simples, mas é extremamente facilitada em momentos de crise como hoje, quando todos os valores sociais estão em questionamento e entre eles o mito da “natural” superioridade masculina contraposta à “natural” inferioridade feminina. Precisamos dar espaço à fala da mulher sobre si mesma, só assim poderemos conhecê-la.

Ilcea Borba Marquez – psicóloga e psicanalista

e-mail – [email protected]

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