ARTICULISTAS

De Mayerling a Saravejo

Não tem como se apaixonar por Viena sem mergulhar na sua história, nos seus mitos e tragédias...

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 01/03/2017 às 07:23Atualizado em 16/12/2022 às 14:55
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Não tem como se apaixonar por Viena sem mergulhar na sua história, nos seus mitos e tragédias. Como história, a Casa Real Austro/Húngara; como mito, a beleza lendária de Sissi a Imperatriz do Império; como tragédia, a controvertida morte prematura do herdeiro do trono e único filho do Imperador Francisco José e Elizabete, da Áustria – Rodolfo.

Um nascimento esperado, que gerou comemoração, estendida a todo o impéri balas de canhão, fogos de artifício, povo nas ruas, muitas valsas e alegria! Com o passar do tempo, ele se revela uma criança frágil e sensível, muito ligado à mãe e distanciado dos pais pela imposição da corte – o herdeiro deveria ser educado por preceptores escolhidos pela casa real. O primeiro quis preparar o soldado nas possíveis frentes de batalha; assim ele precisava se acostumar com o frio cortante, os ruídos assustadores, as madrugadas insones e o rigor da disciplina. Depois do seu afastamento, buscaram-se professores de formação humanista, o que atendia sobremaneira aos interesses do príncipe herdeiro. Já adulto, passou a se dedicar quase totalmente à vida amorosa e boêmia. A cidade favorecia, pois era conhecida por seus teatros, bares e cabarés, com a proliferação acentuada de jovens contaminados pelas doenças sexualmente adquiridas, principalmente a sífilis.

Partiu dele a vontade de se casar cedo, escolhendo como noiva Estefânia, da corte belga, que, no entanto, não agradou totalmente a seus pais e, incrivelmente, nem a ele mesmo. Desse matrimônio nasceu sua única filha, Elizabeth.

Uma amante, em particular, teve papel central no “incidente de Mayerling” – Maria Vetsera, adolescente de extrema beleza, contando então apenas 17 anos. Nas várias versões encontramos características repetidas dando-nos a impressão de se aproximarem mais da realidade fatual: esta jovem o admirava desde a infância; uma prima em comum intermediou o conhecimento inicial; Rodolfo era sifilítico e viciado em morfina; desejava fortemente ter um filho homem, o que seria impossível com Estefânia; defendia os ideais liberais nos artigos que publicava nos periódicos opositores ao seu pai; identificava-se com a mãe nas preferências pelo povo e cultura húngara; tinha um relacionamento difícil com o pai; era constantemente espionado pelo serviço secreto da corte; foi convidado repetidamente pelos húngaros a ser o Rei da Hungria, num golpe separatista; na última crise com o pai, expressou a vontade de solicitar anulação do seu matrimônio com Estefânia, recebendo severa proibição tanto do pai quanto da Igreja.

Em 30 de janeiro de 1889, dirigiu-se ao pavilhão de caça – Mayerling – com alguns amigos e Maria Vetsera. Na manhã seguinte, ele e sua amante foram encontrados mortos, na cama, após escreverem várias cartas aos familiares: duplo suicídio amoroso; assassinato; aborto malsucedido; execução política? Estas são as possibilidades...

Ilcéa Borba Marquez

Psicóloga e psicanalista

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