ARTICULISTAS

A tinta cinza

Como se define arte? Uma das definições mais completas que encontrei foi...

Julia Castello Goulart
Publicado em 23/02/2017 às 07:44Atualizado em 16/12/2022 às 14:56
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Como se define arte? Uma das definições mais completas que encontrei foi: “Arte é a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objetivo de estimular esse interesse de consciência em um ou mais espectadores, e cada obra de arte possui um significado único e diferente”. Um fator importante para sublinhar: “manifestações de ordem estética”. Sabemos que achar algo belo e feio, impactante ou indiferente, depende de cada um de nós. A arte é exatamente isso, possibilitar interpretações, sensações, gostar ou não gostar.

Mas se a arte é tão subjetiva, como identificar se algo é arte ou não? A verdade é que pensamos que só vemos “arte” quando entramos em museus, bibliotecas. Mas a arte pode e está nas ruas, no seu dia a dia. Estamos falando das pinturas e/ou letras que colorem uma cidade tão cinza, como São Paulo.

Ou palavras de ordem contra governantes, e até poesias. O assunto virou polêmico já no início desse ano de 2017, por causa da ação do projeto “São Paulo Cidade Linda”, do prefeito de São Paulo, João Doria. No início de janeiro ele afirmou que iria retirar todos os grafites na área central de São Paulo, "Arcos do Jânio", e também limitar outros na Zona Sul, na avenida 23 de Maio. Muitos grafites foram cobertos por tinta cinza na avenida.

Muita gente se manifestou. Eu me manifestei. Mas, para ser sincera, me surpreendi quando fui pesquisar mais a fundo sobre o Grafite e a Pichação. Hoje, o grafite brasileiro é considerado um dos melhores do mundo, para muitos o melhor, apesar de ter tido sua origem em Nova York. Você já deve ter ouvido falar dos grandes artistas brasileiros que se lançaram mundo afora, como o artista Eduardo Kobra e os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, conhecidos como “Os Gêmeos”. Antes mesmo de o grafite ser considerado “arte” no Brasil, ele era considerado uma ação criminosa, como a pichação ainda é hoje. Em 1998 foi sancionada a Lei 9.605, que criminalizava o grafite e a pichação.

Mas, afinal, existe alguma diferença entre grafite e pichação? Ao contrário do que muita gente pensa, pichação não é o grafite feito em patrimônios culturais. O grafite é uma arte feita com figuras, enquanto a pichação é uma arte feita com palavras. A diferença que uma é considerada arte e a outra, vandalismo. Apesar de serem diferentes, a intenção do grafite e da pichação é a mesma, provocar emoções e percepções em quem caminha na rua no seu dia a dia. Para qualquer um que passe e olhe. Acredito que é importante que haja leis para proteger nossos patrimônios culturais para que não sejam degradados, o que infelizmente ocorre, mas que não se confunda vandalismo com arte.

Expressar-se de alguma forma é tão importante para nós, seres humanos, que desde a época das cavernas já praticávamos pinturas rupestres. Na falta ainda da prensa gráfica, passávamos oralmente as histórias, ou mesmo fazíamos ritmos para cantá-las, as cantigas. Usávamos a arte para se divertir, para expressar ideias, utopias, progressos e também fazer manifestações. A forma como a mensagem é passada não importa, se é por meio da pintura, da literatura, da dança, da música, do grafite ou da pichação. O que importa é não deixar que a arte morra, coberta sobre uma tinta cinza, bem perto dos nossos olhos.

(*) Julia Castello Goulart

Estudante de Jornalismo da PUC-SP

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