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Uma classe à parte

O cenário era uma sala de hospital onde um ex-presidente da República sofria com a iminente perda de uma companheira de anos...

Márcia Moreno Campos
Publicado em 19/02/2017 às 09:30Atualizado em 16/12/2022 às 15:04
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O cenário era uma sala de hospital onde um ex-presidente da República sofria com a iminente perda de uma companheira de anos. O séquito de políticos acompanhados pela imprensa ou fotografados pelo anfitrião para que a visita fosse testemunhada em redes sociais era intenso e constante, em um gesto de verdadeira solidariedade. Até aí, tudo normal dentro da ótica do ser humano comum. Mas, como se tratavam de políticos, fizeram até nesse momento de dor, o que sabem e gostam de fazer: política. Dessas visitas de cortesia saíram vários agendamentos para futuras reuniões de troca de apoios e conselhos. O próprio presidente do país buscou consenso e opinião do representante e fundador de um Partido Político que fez, quando no governo, o oposto do que precisa ser feito hoje, qual seja, contenção de gastos, transparência, crédito responsável e priorização de obras que atendam às necessidades do povo e não ao ego do dirigente.

Após essas visitas, foi indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal o ministro da Justiça. Não que isso seja novidade. No passado, vários ministros da Justiça já foram indicados por outros presidentes e até um advogado do Partido Trabalhista tomou assento na mais alta corte do país, indicado pelo presidente petista. Entendo essas atitudes como uma sinalização de que todos eles, os políticos, são unidos, camaradas, irmãos, sempre prontos a enfrentar juntos seus algozes, no caso, os promotores, policiais federais e juízes que querem, a todo custo, fazer valer a lei. Eles se completam independentemente de suas convicções e partidos. Não nasceram políticos, mas são facilmente seduzidos pelo poder. Perdem a identidade consumidos pelos ditames partidários, pelo espírito de corpo e um insaciável apetite por cargos, privilégios e evidência. Tentam inutilmente justificar suas atitudes. Melhor que não o fizessem.

O país está quebrado, os Estados inadimplentes, as greves pipocando, o povo sofrendo, mas o salário deles, dos políticos, continuam em dia e nunca defasados, porque os aumentos são por eles concedidos e aprovados. Para trabalhar precisam de verbas, de auxílios, de motoristas, de diárias, de cadeiras confortáveis, de férias estendidas, de assessores em número de dar inveja a qualquer grande empresa, de lanches nababescos, de moradia, de telefone, de combustível, de salas vips.. Urge dar a eles um choque de realidade, trocando a reverência pela cobrança. Ou mudamos isso a partir de agora ou vamos para sempre pagar a conta da nobreza, essa classe à parte.

(*) Marcia Moreno Campos

Economista

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