ARTICULISTAS

FISTA: a verdadeira multiplicação de sementes!!!

Neste início de ano letivo, quando professores e direção procuram articular seus saberes em prol da educação de qualidade, atentos à realidade, volto meu olhar à FISTA...

Maria de Lourdes Leal dos Santos
Publicado em 19/02/2017 às 19:45Atualizado em 16/12/2022 às 15:04
Compartilhar

Neste início de ano letivo, quando professores e direção procuram articular seus saberes em prol da educação de qualidade, atentos à realidade, volto meu olhar à FISTA (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino). Faço memória a tantos educadores uberabenses que fizeram a diferença neste processo. Pessoas que acreditavam no ser humano, mesmo diante dos desafios da ditadura militar, da falta de recursos, das restrições impostas pelo sistema capitalista, tiveram a presença dominicana em suas vidas e trilharam novos rumos. São preponderantes os relatos de ex-alunos, ex-professores, ex-funcionários que afirmam o valor da educação dominicana em sua trajetória profissional e na convivência familiar. São histórias de vida que estabelecem uma coerência com o espaço social, traduzem laços afetivos e posturas pedagógicas construídas laboriosamente. Vejamos o depoimento de Heliana Angotti Salgueiro, ex-aluna da FISTA que busca fragmentos no fundo da memória e retrata sua formação acadêmica, nos anos 69 a 72. Seu relato é significativo quando faz memória aos professores marcantes, memória intelectual: “Com Maria Antonieta Borges fui introduzida aos métodos da école d’Annales, e ao que , nos anos 1970, seriam os novos problemas, novos objetos, novas abordagens da Nova História, ainda em formulação na França. Anos mais tarde em Paris, ao receber o título de Doutora em História pela École d’ Haustes Études em Sciences Sociales, num belo fim de tarde de junho, vieram-me à mente dois elementos de memória: o de memória material, ou seja, o cartão postal com a silhueta da capela do Colégio Nossa Senhora das Dores enviado pela Irmã Solange e o de memória intelectual: os ensinamentos da Antonieta sobre a História do Brasil. Ambos não deixam de inscrever-se na memória afetiva”. Durante o período militar muitos professores, religiosos e alunos sofreram inúmeras pressões diante da sociedade uberabense que era extremamente reacionária, conservadora. A imprensa local, por meio do Correio Católico, hoje Jornal da Manhã, divulga manifestações de reconhecimento à Igreja e educadores, em especial a Dom Alexandre Gonçalves do Amaral. A aluna Elisa Angotti Kossovitch, que foi militante da AP, simpatizante da JUC, membro do Centro Acadêmico, atuante nos grupos de teatro da FISTA, com vivência internacional no processo de conscientização política nos revelou “a memória” destes anos da ditadura: “Neste período, afastaram da Faculdade todas as ações políticas. A gente reunia a turma da JUC, lá no Geraldo Miguel. A casa do Geraldo Miguel tinha um porão e a gente reunia para discutir os documentos do AI 5; os decretos, a própria proposta de educação. Era um grupo muito consciente. Tinha um filho do professor de Português Geraldo Guimarães, que fazia Letras, Eduardo Guimarães, muito consciente. Danival Roberto Alves era maravilhoso e atuante”. Estavam nesta luta também: Gildo Macedo Lacerda, Renato Montandon, Maria Cremilda Sucupira, Vilma Valim, Antônio José Duarte Jácomo, Maria de Lourdes de Melo Praes e outros. Apesar das pressões, alunos e professores garantiam a presença de atividades culturais abertas à comunidade local, como espetáculo Orfeão, regido por Prof. Luiz Alberto de Miranda, no Sírio Libanês. Como disse Irmã Maria Georgina sobre a FISTA: “Não é efêmera a vida de árvores fortes. Se tiveram a vitalidade para florir, permanecerão pela multiplicação de sementes. E sementes sadias dão frutos sadios!”.

(*) Doutoranda em História da Educação pela USP

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por