ARTICULISTAS

Meu silêncio não é consentimento!

Mais uma madrugada de reflexão sobre os acontecimentos do meu dia a dia...

Marco Antônio de Figueiredo
Publicado em 20/02/2017 às 08:11Atualizado em 16/12/2022 às 15:04
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“(...) porque calando nem sempre quer dizer que concordamos com o que ouvimos ou lemos, mas estamos dando a outrem a chance de pensar, refletir, saber o que falou ou escreveu. Saber ouvir é um raro dom, reconheçamos. Mas saber calar, mais raro ainda.” (Carlos Drummond de Andrade)

Mais uma madrugada de reflexão sobre os acontecimentos do meu dia a dia. Lendo o mestre Drummond de Andrade, trouxe para realidade desta terra de Major Eustáquio seus ensinamentos, passei a analisar e cheguei à conclusão que não me prendo a nada que possa definir.

Por um lado posso ser companhia, mesmo me sentindo solitário, mas dependendo da situação, me comporto com tranquilidade diante da inconstância das situações, ainda que prevaleça um silêncio de pedra, ferindo o coração.

Sou, na maioria das vezes, abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, mas também sei me comportar com ironia (sutil e óbvio sem magoar outras pessoas); posso reagir com cinismo (não me importando com o que as outras pessoas pensam ou sentem, falando ou escrevendo sem medo de dizer o que penso); às vezes ajo com sarcasmo (falando ou escrevendo de forma picante e provocadora).

Mas existem momentos também, em que é necessário apenas calar, ficar em silêncio, não significando com isto ausência de uma resposta ou indiferença.

Esse calar, pode acreditar, é, antes de qualquer coisa, estar presente aos fatos e atos do cotidiano, observando e absorvendo em minha volta os imensos discursos vazios, diálogos superficiais e respostas infundadas, comprovando e incentivando na alma a contradição ao velho bordão popular, solidificando a premissa de que quando calo não é porque aceito o que está sendo dito, mas ainda assim, respeito, porque tenho que engolir.

Tem dia que não sei o que falar ou como falar, sendo o melhor remédio o silêncio para poder alcançar o conforto, restaurar forças e acalmar, fazendo surgir um sorriso, um gesto e até mesmo um olhar de resignação, mas não consentimento.

Tenho procurado aprender saber calar se não for a hora de dizer, evitando assim machucar alguém, mas chegando à conclusão de que este silêncio pode ser até ausência de sons, mas nunca de sentimentos, concordância e aceitação.

Diz um velho ditado popular que a palavra pode valer prata, mas o silêncio, com toda certeza, vale ouro e foi por isso que Deus me deu dois ouvidos e uma só boca, para que possa ouvir mais e falar menos.

Lendo certa vez Rabi Nachman, uma afirmativa veio de encontro a esta reflexão, quando disse que “na juventude aprende-se a falar. Na velhice, a calar. Este é o grande defeito do homem: ele aprende a falar antes de saber calar...”

Para um bom entendedor, o silêncio é como um pingo e um pingo, muitas vezes, pode significar uma letra ou ainda um livro inteiro.

Meu silêncio não é ponto final, mas uma vírgula, pois ainda tem muita água para rolar até o mar e tudo pode acontecer.

Marco Antônio de Figueiredo - Advogado e articulista

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