Milagre

Em uma rua movimentada, algumas pessoas resolveram preparar um alerta para motoristas que estacionavam o carro na vaga destinada a deficientes físicos. Assim que um jovem motorista se afastou do veículo que ele havia estacionado na vaga especial, colaboradores cobriram todo o carro com adesivos azuis. O veículo ficou azul. Lindão.

Voltando ao carro, que estava rodeado de curiosos, o motorista ficou desagradavelmente surpreso ao perceber que o carro havia desaparecido sob os adesivos. Nervoso, depois de arrancar parte da papelada que obstruía a porta e entrar no carro, notou os vidros cobertos pelos papéis. Exasperado, desceu do carro e, sob as risadas da plateia, conseguiu limpar um vidro, para poder sair dali com o seu carro. Imagens desse fato, que era para ser só mais um, dentre tantos, estão à disposição na internet e você já deve ter visto.

Há poucos dias, deparei-me com um carrão de luxo obstruindo uma rampa para acesso de cadeirantes. Lembrei-me logo de outra pegadinha feita contra motoristas um tanto quanto folgados. Um grupo de pessoas, para disfarçar, posicionava-se meio esparramado, próximo a uma vaga para deficientes físicos. Não demorava muito e, na vaga especial, estacionava um descuidado motorista não deficiente, que, assim que saía do carro, recebia palmas e ouvia os gritos daquelas pessoas, agora reunidas: “Milagre, milagre! Mais uma cura milagrosa! Um deficiente físico ficou curado ao estacionar nesta vaga!” Houve reações as mais diversas: enquanto certos motoristas discutiram com o grupo, outros riram do fato, pediram desculpas e tiraram o veículo da vaga. Você também já deve ter visto essas imagens pela internet ou pela televisão. Os vídeos disponíveis com pegadinhas semelhantes a essas já são muitos.

Todos nós poderemos parar um dia nas vagas especiais para idosos e deficientes físicos, desde que nos tornemos um deles, afinal, todos somos candidatos, desde que adquirimos nosso passaporte para a vida. Quem ainda não se tornou um destes, em geral, entende que a vaga é exclusiva para deficientes físicos ou idosos. E mesmo que alguém não tenha sido educado nesse sentido, a lei se encarrega de lembrar essa lição de civilidade, sem dar margem à dúvida. Se o motorista insistir na falta de civilidade, que se prepare: multas, guinchos, pegadinhas e internet poderão tornar o fato memorável.