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A Ponte da Amizade

Em 1979, passei 45 dias trabalhando em Foz do Iguaçu, mais precisamente na Ponte da Amizade...

Márcia Moreno Campos
Publicado em 05/02/2017 às 13:00Atualizado em 16/12/2022 às 15:18
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Em 1979, passei 45 dias trabalhando em Foz do Iguaçu, mais precisamente na Ponte da Amizade, que liga o Brasil ao Paraguai. Nessa época os fiscais da Receita Federal revezavam em turmas que lá permaneciam temporariamente exercendo a fiscalização de mercadorias e pessoas que transitavam entre os dois países. Foi um período de grande aprendizado na minha vida, diante de uma realidade totalmente nova para mim.

O Paraguai de então era um país muito pobre, habitado por pessoas cordiais, humildes e amantes da boa música. Eu almoçava ao som de guarânias tocadas em harpa e violão. Apaixonei-me pelo povo paraguaio. E com pesar notei que todas as lojas, bares e restaurantes que frequentei ostentavam nas paredes uma foto bem grande do presidente à época, Alfredo Stroessner, que era reverenciado com um misto de respeito e medo. Ele foi um presidente populista que exerceu sete mandatos consecutivos, de 1958 a 1988, desfrutando do mais longo governo da América Latina no século XX, depois de Fidel Castro em Cuba. Passados 29 anos de sua deposição por um golpe de Estado, o que se vê hoje é um novo país, que cresce a uma média de 6% ao ano. Desde que um empresário assumiu a presidência, em 2013, as coisas começaram a mudar. Apelidado de o Tigre Guarani, o país se desponta e vislumbra um futuro promissor. No Paraguai a energia é bem mais barata que a brasileira, embora a usina de Itaipu tenha sido construída por ambos os países, e o trabalho lá é bem menos oneroso que aqui, já que os encargos trabalhistas e previdenciários representam 35% do salário, enquanto no Brasil somam de 100 a 130%. A tributação é mais baixa que a nossa e as parcerias público-privadas funcionam de verdade. Na querida Ciudad del Este, onde eu caminhava por ruas de terra, as lojas populares foram substituídas pelo luxuoso Shopping Paris, símbolo de prosperidade e pujança. Ainda falta muito para o Paraguai se tornar um país desenvolvido, mas, com toda certeza, ele está no caminho certo.

Só espero que nunca perca a ternura, marca registrada do seu povo, e que possa exportar para nós a lição de que o populismo, o culto à personalidade e a supremacia de um único partido político sobre os demais representam receita a não ser seguida. Um país forte se faz com instituições sólidas, povo atento e gestão eficiente.

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