Conselho

Consuelo, vizinha de Zé Coelho, sempre o visitava pela manhã. Amigos antigos, ela tinha por costume chegar na hora que ele acordava. Um desses dias aconteceu o seguinte: – Consuelo dê-me um bom conselho, pedia o desatento e alheio Zé Coelho, ainda deitado, avistando, do quarto, Consuelo pelo espelho. – Escove os dentes e penteie o cabelo. Depois o conselho, falou Consuelo. De pé, com dente e cabelo no modelo de Consuelo, chegou à sala Zé Coelho. – Pronto, agora que penteei o cabelo e nos dentes dei zelo, quero o seu conselho. – Então, lá vai, disse Consuelo. Cuida para não fazer filho. Assustado, sem argumento e apelo, respondeu ligeir – Não consigo, Consuelo, tenho problema no aparelho. – Então, Zé Coelho, vai ficar cada vez mais no vermelho. Vá ao doutor e pede para pôr freio no aparelho. – Tenho medo, Consuelo, de estragar o aparelho. –Estraga não, Zé Coelho. Funciona do mesmo jeito, só não faz mais fedelho. Quem mexe com isto aqui é o Dr. Rabelo. É muito simples. Você sai do Dr. Rabelo no mesmo dia e vai pra casa. Dá uns dias e pode funcionar o aparelho. Vai ver que funciona sem qualquer atropelo. – É assim então Consuelo? – É, Zé Coelho. – Consuelo, você sabe tudo. – Por isto não teve filhos? – Não, Zé Coelho, preferi não tê-los porque resolvi não fazê-los. – Explica melhor Consuelo, disse Zé Coelho. Mas o Cornélio, nada, Consuelo? Achei que com ele você ia bater o martelo. Ele era seu camelo, por isto não quis acolhê-lo. Nunca teve um parceiro, um carinho, um afago, um suspiro. Eureca, Consuelo, é a Maria Botelho. Gente, estava na minha frente. Agora ficou claro, vocês duas juntas o dia inteiro dizendo que iam pro Carmelo. A senha era o vestido amarelo da Botelho e o seu vermelho, Consuelo. Quando voltavam nem reparavam no desarranjo dos cabelos. Agora, Consuelo, quem vai dar um conselho sou eu, Zé Coelho. Trate de achar Maria Botelho e eu vou ao Dr. Rabelo dar um jeito no aparelho. Quando voltar quero ver Botelho e você, Consuelo. Uma coisa fica certa, filhos não poderei fazê-los, mas poderei tê-los. E vocês, Botelho e Consuelo, poderão tê-los e também concebê-los.

(*) Engenheiro

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