Um grande amigo de meu pai, colega de Engenharia, que também estudou na escola conhecida como Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil,no largo de São Francisco, prédio tombado pelo Patrimônio, deixou-me de herança um cavaquinho e uma clarineta... Eram da mesma turma de Darcy Derenusson, um uberabense muito estimado e respeitado pelos colegas... Para ir à casa da viúva buscar os instrumentos musicais herdados, convidei uma prima, Mônica, que sabia andar pela Tijuca melhor do que eu. Ela, por ser amigona de uma criatura que fazia parte da comissão julgadora do desfile, contou-me que a visita a Tijuca seria ótima para ela, pois queria agradecer à diretoria da Unidos da Tijuca pelo convite para desfilar pela escola... Mônica foi presenteada também com a fantasia... Pegamos meus instrumentos musicais e, quando chegamos na esquina da rua Uruguai com a rua Conde de Bonfim , a escola ainda ensaiava e a espetacular bateria não havia ainda encerrado a sua belíssima performance... Mônica apresentou-me a todos da diretoria... Foi quando uma senhora integrante começou a me examinar desde os pés até os fios de cabelo da cabeça... Meio sem jeito perguntei-lhe: − Por que a senhora está me analisando tanto?... Ela foi logo respondend − Você é o homem que me faltava... Levei um susto, pensei que fosse paquera... ela não era de se botar fora... mas continuou: − Estou lhe cantando, mas é pela Unidos... quero que você também desfile... Foi aí que me senti um fóssil de Peirópolis... − Preciso de você na ala dos veteranos que fecha o desfile e que segue atrás da bateria...
Retruquei logo... − A senhora vai me desculpar, mas tenho artrose nos pés, joelhos e pernas... não dou conta... Foi quando minha prima entrou irritada na conversa, cortando nosso colóqui − Você fica de frescura, você devia fazer isso pelo Rio... pelo nosso turismo... Respondi log − Você está farta de saber do meu problema... E ela: − Faça um sacrifício por nosso Rio, caramba!!!!!! Deixe de ser fresco... Mônica comigo sempre foi brava, filha mais velha da irmã de minha mãe... acabei obedecendo... Gastei um dinheirão com a fantasia... sapatos brancos, meias brancas... casaca de um branco brilhante com enfeites dourados na lapela... botões também dourados... cartola com imenso penacho branco...Quando, em frente a um enorme espelho, experimentei a fantasia, pensei até naquela história que me contaram quando criança "espelho, espelho meu, será que existe alguém mais 'chic' do que eu???"
No dia do desfile procurei meu par, uma negra de seus oitenta anos, amor de criatura, numa baiana branca muito elegante... Entre a bateria e nossa ala um destaque, uma maravilhosa mulata cheia de penas pretas, corpo apaixonante, biquini de uma só peça... De repente a bateria começou a atuar, a nega a requebrar, peitinhos a balançar, Ivan a se animar, artrose a abandonar!!!!! Quando fizemos o noventa graus para a entrada na bela passarela do Oscar tive um forte arrepio pela coluna vertebral... A coisa é de uma beleza tão grande que nem se vê o tempo passar... e a mulata... a bateria... se não enfartei, não enfarto mais... Logo, logo chegamos ao Arco do Oscar, de estética magnífica, retratando a bunda de uma mulata carioca. Acho que foi a coisa mais curtida que já fiz por meu Rio de Janeiro!!!!!!
Dias depois, estava curtindo um toucinho do Céu do Alentejo no bar Ubaldo, em Ipanema, quando meu celular tocou... Era Maria Lúcia Moreira, que sempre chamo de ''Dinda'', pois sempre me prestou favores especiais ao longo da vida... Frequentava com os pais a casa de Ribeirinho, pai de mamãe, em Itaipava, quando éramos crianças: − Ivan, Bebel, minha filha, resolveu que você será um dos padrinhos de seu casamento... Por gostar muito da Bel, fiquei rempli de moi-même, e fui a Copacabana alugar o fraque... Ao constatar o preço do aluguel resolvi sacanear a ''Dinda'': − "Dinda", esse trem está caríssimo...Vc se incomoda se eu vestir a casaca da Unidos da Tijuca????? Como não engole brincadeira deu-me logo um troc − Ivan,você entrando com o penacho da cartola enfiado no fiofó , pode tudo!!!!!!!!!!
